A Vaga é sua Na manhã mais fria de... Rodrigo Lange
A Vaga é sua
Na manhã mais fria de uma segunda-feira,
trabalha eu, feito um morto-vivo.
Sob a mão direita café expresso, sem açúcar
a mão esquerda segura o mouse
e na tela planilhas ensurdecedoras
clamam minha atenção.
Hora perdida nos meus pés frios,
hora perdida nos meus subordinados.
Meu colega ausente por doenças, no quente de sua cama.
Atestado obviamente, sua criatividade espanta.
Podendo iludir até mesmo o mais capanga dos médicos.
O mundo é dos espertos, gabava-se ele.
Mal enxergava ele, inúmeras portas se fechando.
Quanto aos e-mails, havia um em especial.
Um humilde analista ilustre.
Este doente de fato, quase incapaz de abrir seus olhos.
Numa tosse constante e intensa,
similar ao cão rouco do vizinho
que late agora mesmo, feito condenado.
Pobre alma, confessando rasgar seu merecido descanso.
Passe livre de cinco dias do intenso frio que nos ardia.
Um verdadeiro livramento,
concedido a ele merecidamente por um médico autêntico.
Ora, ora amigo meu,
Amanhã eu digo adeus.
Forjarei minhas próprias jóias.
Quanto a você, não se preocupe, digo
Falta-me uma última importante vaga,
aquela que será destinada até ao nascer do Sol,
pois se ainda houver um sol,
É dele de quem eu preciso.
O sábio, o justo.
Aquele que jamais trairá sua própria honestidade
e nunca confrontará a paz de sua consciência,
deixando-me no escuro.
Digno e tentador usufruir o bem que nos é concedido.
Mas seu sacrifício, embora seja injusto visto de fora dos seus muros.
dentro deles, reconheceu sua importância,
o terror da sua ausência
e demonstrou sua imensa honestidade.
A vaga então é sua, meu sócio.
O mundo é dos espertos, não dos que se acham os espertos.