Looping temporal o medo afugenta a... Arremedos Poéticos
Looping temporal
o medo afugenta a coragem
a razão abafa o coração
vê, um verso trazido pelo vento em forma de canção
o que ela nos diz?
o que ela lhe diz?
em algum lugar no tempo, nesse tempo, um ponto específico, um reencontro, agora distante
o inferno engole o céu, vivemos sob os mesmos tormentos
uma porta, uma saída?
uma lembrança, uma saudade, um passo, uma atitude
a loucura da razão pisa jardins inteiros antes que estes floresçam
entre a semente e a flor existe o tempo, é fato, tempo de cultivar, cuidar, dar atenção, não enterrar-se no profundo da terra em direção contrária ao nascer da flor
o mergulho que escorre nas entranhas da escuridão profunda que desagua no magma das chamas purgatoriais da tristeza
eu deveria aprender a me despedir de quem se despediu de mim, todavia acredito que se eu sobrevivesse, com 87 anos, daria um jeito de me dizer de forma irônica que "desisti", mesmo você tendo desistido primeiro
cantos de pássaros multiplicam sabedoria nos ares buscando guarida em nosso peito
te falo sobre a sabedoria do canto dos pássaros?
rasgar minha voz outra vez para lhe dizer o que se recusas ouvir?
coração partido, recuso partir, recuso dizer adeus
em breve, contra minha vontade meu corpo partirá, lembrarás então de canções que deverias ter cantado no tempo entre a semente e a Flor
cantarás para mim, enfim, sem se importar com a razão, embora a razão lhe diga não ser possível meu corpo morto ressuscitar
buscará minhas palavras, estarão vivas para sempre, aquecerão seu coração para em seguida debulhar-se em lágrimas pela minha voz morta que não poderá mais lhe dizer ao pé do ouvido que te Amo
entre a semente e a Flor, o tempo, onde se morre por falta de cultivo, cuidado e atenção
ouve, canções e prenúncios, canções de luto, canções por quem vive
ouço minhas próprias canções fúnebres
[...]
canções sobre o tempo
que deveria ser
um fazer-se
presente
canções sobre o tempo
que é um fazer-se
"ausente"..