CARTA DE UM IMIGRANTE Hoje decidi... Edinaiane Carneiro Ferreira
CARTA DE UM IMIGRANTE
Hoje decidi partir. Deixo para trás a minha mãe, o meu pai, avós, irmãos, amigos e quem eu sou. Não posso mais continuar vendo tanta injustiça com as pessoas que eu amo, tanto bombardeio que caem sobre nossas cabeças, que matam nossas crianças também . Preciso sair daqui, sem dinheiro, não me deixarão entrar em outro país, pois não tenho "meios", mas eu preciso ir. Não tenho nada a perder, pois já que irei morrer aqui mesmo, antes disso talvez veja toda a minha família morrer primeiro, sem ajuda. Será a última vez que os verei. Dou um beijo em minha mãe que se desespera em lágrimas , mas mesmo assim me abençoa, abraço meus irmãos mais novos que terão a responsabilidade de cuidar da casa, meu pai não veio. Poupei meus avós por serem muito idosos e talvez não suportariam a despedida. Parto. Sem rumo. Encontro outras pessoas na fronteira com o mesmo destino que o meu : SAIR. Encontramos " coyottes" que nos prometem atravessar o oceano em segurança. Entregamos nossa economia dada por nossos familiares. Chega o bote. Eram para ser só dez, mas tem quase duzentas pessoas à bordo. Sem salva vidas. Com fome, frio, chegamos a um país, mas não podemos ficar na fronteira. Partimos para outro, outro, e outro país. Conseguimos passar a fronteira. Agora vamos enfrentar o preconceito , o medo de adoecer e não poder ir a um hospital ( sou clandestino). Se encontrar bons amigos e conseguir trabalhar talvez eu consiga mandar dinheiro para a minha família em nome do meu amigo. Mas nunca mais poderei abraçar a minha família novamente . Vou orar todos os dias da minha vida para que Allah me perdoe por isso, mas eu precisava sair.
Texto : Edinaiane Carneiro Ferreira