Fragilidades - Quando não temos um... Ricardo Maria Louro
Fragilidades -
Quando não temos um sentido
para a vida que vivemos
como um barco em vão perdido
não sabemos o que queremos!
Há vazio, há dor e espanto,
algo falta ao destino
e há em nós um desencanto
que deixa lastro no caminho!
Mas o mundo não entende
que de normal só temos corpos
e que a morte nos pretende
no desejo de estar mortos!
Quando os olhos só nos fixam,
p'ra dizer, tu és errante,
porque teimam e nos miram
deixem ir o caminhante!
De normal não temos nada
só as cordas deste mundo
que nos prendem numa casa
ao silencio em que me afundo!
Mas às vezes não entendo,
porque dou tal importância,
a quem, me vê - nunca me vendo,
fala em mim com arrogância!
E não me lembro de viver
embora o dia esteja claro
porque o desejo de morrer
é mais forte do que raro!
E não consigo acreditar
que chegue um dia a entender
o que quero encontrar
p'ra deixar de querer morrer!
A morte é fuga do cobarde
a vida é força do audaz
mas antes quero, sem alarde,
poder sentar-me com a paz!
Sou mais frágil do que pensam
eis meu sopro de evidência
e só quero que não esqueçam
que da vida fui ausência!