Respir arrrr. E preso, com os... Júlia Figueiredo
Respir arrrr.
E preso, com os pulmões inflados, estou a 1 segundo de satisfazer-me
Não tenho pulmões exigentes
Importa-me que esteja presente, na devida proporção, o ar que me cerca
Importa-me que oxigene as células
O fôlego percorre seu caminho,
encontra a existência,
mata um pouco
porque é o mecanismo da vida, um pouco de morte em si
Se eu tivesse pulmões exigentes, não haveria espaço para a vida
Eu morreria da eterna utopia de que ar melhor é o ar puro
Morreria na ideia, e não viveria a tempo de contar-lhe que ar puro mata
Mata porque não se disponibiliza
A exigência mata
Cuidado!
E mata não só de raiva os pulmões
Mata quando exigimos o melhor do ar, da vida, das relações, dos serviços, do tempo, de tudo, de todos, da evolução, dos cenários…
Melhor é viver com o simples que se tem a morrer periódicos sufocos aguardando o refrigério que merecemos
Por óbvio, merecemos o puro, o sacro.
Mas de que serve o sagrado inalcançável?
Ninguém se hiberna
A vida é urgente!
Não existe isso
Não existe esperar o melhor para degustar a vida
O melhor é agora, nos retalhos de colchas da existência
quando, nos desafios, precisamos costurar logo para existir