CRESCEU-NOS A CAMA Lentamente... Francisco José Rito
CRESCEU-NOS A CAMA
Lentamente
descemos o rio
mudaram as luas
os azuis do céu
e os verdes das margens
até nós mudámos
sem darmos por isso
pouco a pouco
o espelho mostrava-nos
o que viria a seguir
o preço a pagar
pela nossa irreverência
eu deixei de correr
e tu seguiste-me os passos
até ao ponto de não podermos
mais fugir ao destino
o céu acinzentou
cresceu-nos a cama
e o sangue deixou de saciar-nos
diz-me, amor
perdemos a sede
ou secou-se a seiva
que nos corria efervescente
pelas crateras da pele em chama
cresceu-nos a cama
ou mingaram-nos os braços?