O poeta passa a vida inteira fazendo... Carla Ramires
O poeta passa a vida inteira fazendo rascunhos que nem sempre dão tempo de passar a limpo. Escorre pelas mãos tudo o que não sai da boca; nas entrelinhas, a raiva, o amor, o desânimo, o destempero, o desgosto, o afeto -até que se afeta com tudo e transborda-
O poeta não é forçado a nada: é feito criança que precisa ser livre pra ser o que é, o que vem, o que será...
O poeta é toda dor e alegria de uma só vez. Ferida que sangra sem doer, dormente de tanto sofrer, o poeta.
Rio que vai para o mar, deserto do choro que empoça a vida, derrama, rasteja, se ergue feito uma fonte para começar tudo outra vez...
- Rascunhos que nem sempre dão tempo de passar a limpo.