A TRAIÇÃO DOS DEUSES Ele rezava... Carlos de Castro
A TRAIÇÃO DOS DEUSES
Ele rezava confiante, até desfalecer
De joelhos num chão duro e frio,
Não suportando mais a dor do desvario,
Pobre idiota que cria sem nunca querer.
Rompia a memória em orações a arder,
Que repetia sem nexo como galo cantando
O nascimento de um dia inútil e nefando
Numa lengalenga só decorada, sem ler.
Ele era como eu na suposição de o ser,
No testemunho de um desabilitado
Dos deuses loucos e de mal feder.
Deu-lhes tudo e os do mudo planetário
Cá do burgo mundo por nós habitado,
Não merecendo tal traição em seu fadário.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 10-10-2022)