" Uma" história de Natal... Miguel De Campos
" Uma" história de Natal "
Cintilantes são as luzes que marcam a chegada do Natal que já se faz passear, numa azáfama de querer comprar tudo, desde amor a ideias, percorrendo por entre ruas e vielas desta agitada cidade que não dorme, mas entre elas lá está o “Mendigo” e quando se pensa nesta palavra, vem logo ao pensamento alguém pobre, sujo, descalço, enfim, alguém que está na miséria. Há dias que marcam os dias da gente e hoje foi dia de ficar com uma imagem diferente de ti “Mendigo”, não foi por acaso, que essa imagem irá ficar para sempre tatuada no meu ser.
Desabafava eu para com os meus botões, caminhando sobre a vida, dirigindo-me para casa da minha mãe, para mais uma vez sentir o conforto da sua casa, o aconchego e calor do seu lar, quando mesmo à sua porta surgiste. Esticando a mão, disseste em tom de voz sacrificada pela vida e um olhar de fome que mendiga : “ Uma ajudinha, por favor ”. Reparei em ti, na tua pobreza, e subitamente sou invadido por uma enorme vontade de chorar, mas não foi isso que guardei em mim! Nós passamos por ti tantas vezes e na pobreza do nosso espírito, pensamos que carregamos todos os problemas do mundo, levantamos a cabeça, mas a mesma permanece serrada no chão sobre os problemas que nós próprios criámos e questionei-me: o que é que te aconteceu para estares aqui!! Apesar de todo o teu sofrimento, tu disseste: “Obrigado”. Foi aí que tocaste no mais íntimo do meu ser, um turbilhão de sentimentos e pensamentos começaram a invadir-me e até comentei para comigo mesmo: “Não te dei nada e ainda assim na humildade do teu ser, agradeceste-me”. Não consegui ficar indiferente e fiz-te chegar a minha “ajuda”, tal como tu havias pedido, com um ar humilde, e olhar penetrante, sorriste, dizendo: “Obrigado ”.
A partir desse preciso momento, comecei a fazer introspeções acerca da vida, para onde caminhamos e tirei até uma grande lição…
Quantos mendigos não existem por aí, mendigos esses com bom aspecto, que não lhes falta nada, andam pela rua com o seu ar imponente e que sobretudo não se tocam, nem se deixam tocar pelo Amor. Tu não, tu não és “Mendigo”.
Porque se não tens nada, não deixaste de ser humilde, não deixaste de te alegrar com o pouco e com muito, não deixaste de sorrir, não deixaste de caminhar e de acreditar.
“ Mas, quantos de nós poderão dizer o mesmo, ainda que tenhamos o suficiente.”
Quantos não são os que neste Natal andam numa correria desenfreada, de superfície em superfície comercial à procura de prendas? Eu sei, eu também gosto de receber prendas, acho que todos nós gostamos mas o Natal é muito mais que uma prenda, é muito mais que luzes e enfeites, é muito mais que tudo. E sentimos no âmago do nosso ser quando começam a faltar pessoas na mesa para a ceia de Natal, deixando-o assim mais pobre.
O Natal é uma quadra em que é tempo de percorrer um caminho de PAZ, HARMONIA, PARTILHA.
Pois o verdadeiro “Mendigo” é todo aquele que deixa de AMAR, AGRADECER, SORRIR, RESPEITAR e não todo aquele que foi privado das dádivas da vida.
✍ Miguel De Campos