O cigarro e o álcool O cigarro... Ricardo Melo
O cigarro e o álcool
O cigarro intrigado por ser julgado em trazer muitas doenças, se lamentou:
--Pobre sou eu!
Me sugam e me sopram,
Não consigo entender...
E Baforando mundo a fora encontrou-se com o álcool e o chama para um desabafo:
--Ei,
Você aí!
Como se chama?
O álcool responde:
--Qual é a sua curiosidade em querer saber meu nome?
O cigarro contínua:
--Estou eu a viver nesse mundo e só sou julgado por prosperar catingas e muitas doenças.
Já me expulsaram de locais e saí como um
um bandido e isso acontece onde quer que eu vá.
Me jogam, me pisam, me cospem ...
Até em sacos de lixos já me vi aceso e apagado sem o direito de espalhar minhas fumaças.
Certo dia,
Estava eu na boca de um viciado e
lá do último andar de um prédio ele me joga, aceso cai cambaleando na rua, veio um carro sem piedade e me esmaga, apagando toda a minha protuberância.
Pode isso?
O álcool sentindo-se superior e para não dá o braço a torcer retruca:
--É sr da fumaça fedorenta,
Aqui se faz aqui se paga.
---Ja imaginou a quantidade de vida que tu já matou?
---Ja imaginou quantas tosses você ja causou?
---Ja imaginou os aneurismas e asmas que você prosperou?
---Ja imaginou quantas vidas você ja envelheceu?
Não precisa responder a mim,
Responda para si mesmo.
Se renda e pare de se fazer de vítima,
Pois muitas vidas você exterminou....
O cigarro, pensativo e triste,
Levantou a cabeça com um restinho de nuvem que lhe restara e responde:
--Ok!
Vou sim analisar tudo que me falastes.
E continua:
--Mas afinal,
Eu perguntei o seu nome.
E ainda não me respondestes?
--Ah!
--É claro...
-- Satisfação, me chamo álcool!
Orgulhoso e imponente, continua o álcool.
--De mim faz-se vinhos, cervejas e champanhes;
--Fazem cachaças e whiskys das mais variadas marcas;
--Eu vim da cana dos canaviais,
--Sou aguardente refinado nas mesas dos ricos e dos considerados.
--Sem contar os motores que impulsiono por esse mundo a fora.
O cigarro contínua:
--Ah!
Eu ja vi falar de ti.
Rapaz,
Tua fama vai longe né?!
Agora que caiu a ficha.
Olha,
Eu posso ser sim tudo que me falou..
E lhe respeito por suas palavras dirigidas a mim.
Sabe,
Esses dias eu vi na TV uma matéria que falava sobre suas especialidades...
Pasmado eu fiquei.
O álcool responde;
-Sério ?
-Nossa!
-Que legal...
-Me fale um pouco o que você ouviu de mim.
O cigarro começa;
Por tua causa, carros e caminhões dirigidos por pessoas embriagadas, matam animais outras pessoas.
Por tua causa, brigas se prosperam em butecos sem coberturas e se matam debaixo do sol e das garoas;
Por tua causa, torcedores distorcem uma partida de futebol.
Por tua causa, existem até abusos sexuais;
Por tua causa, a porrada canta com brigas corporais;
Por tua causa, muitos fígados se destroem;
Por tua causa, explícitas cenas eu vejo nas facções;
Por tua causa, até os psiquiatras ficam doidos;
Por tua causa, intestinos se esvaziam passando mal, vomitam as tripas e muitos sentem dores de cabeça e ressacas;
Por tua causa, o conquistador passa ser conquistado;
Por tua causa, os cemitérios ja estão lotados.
Tu és mesmo,
Um assassínio de primeiro grau...
O álcool para não levar tanto desaforo,
Diz:
--Ja te falaram que fazem de você um charuto de entorpecente?
Que quando misturado a mim, podemos matar o dobro de gente?
E o álcool finaliza:
--Vamos nos apartar?
Pois o homem é fraco e de nós depende para se confortar...
Vai tu para um lado,
e eu para o outro...
E ponto final.....
Autor : Ricardo Melo
O Poeta que Voa