Ninguém viu Ninguém viu, quando em... J C Gomes
Ninguém viu
Ninguém viu, quando em dias de muita fome, nos deram de comer, mas tive de dividir um prato de comida e duas colheres com minha irmã, quando ainda éramos inocentes.
Ninguém viu, quando ainda criança, trabalhei debaixo de sol, sendo explorado por adultos, carregando peso acima de minhas forças, para ajudar no sustento de meus irmãos.
Ninguém viu, quando no terceiro dia de fome, depois de muito choro, tristeza e temor, de seis crianças ao seu redor, minha mãe conseguia farinha para fazer um pirão e comermos e aplacarmos a nossa dor.
Ninguém viu, quando morando em um quartinho sem banheiro, ao lado de meu primeiro amor, defecava em um jornal para jogar na lixeira que encontrava no caminho, confiando em um futuro de alegria e amor.
Ninguém viu, quando chorava sozinho por não ter com quem compartilhar minha dor, pois condenavam o meu caminho, que foi de tristeza e dor.
Ninguém viu, quantas noites passei cuidando de um amigo alcoólatra, para não deixá-lo se perder, e hoje como meu inimigo, essa lembrança faz meu peito doer.
Ninguém viu, quando meu amigo de fé e companheiro meu sócio comercial, me traiu e de mim a sorte, sem misericordia ele tirou.
Ninguém viu, quando arrastei meus filhos comigo por não ter com quem deixar, para na minha ausência deles cuidar.
Ninguém viu, quando se aproveitaram de minha situação e usurparam tudo o que podiam, até meu coração.
Ninguém viu, quando sem grana me humilhava diante de portas fechadas para junto com meus filhos me alimentar.
Ninguém viu, quando fui roubado por quem confiei meu espaço e minha amizade, sem saber que queriam meus bens tirar.
Ninguém viu, quando dei 100 dias de meu trabalho a uma grande amiga e doente ficando me desprezou e não me visitou.
Ninguém viu, quando o dinheiro acabou e sozinho fiquei e minha vida doei e trabalhei para cumprir a palavra que dei.
Ninguém viu, quando ganhava uma quentinha no almoço e dividia com a janta, por não ter como pagar.
Ninguém viu, quando ouvi de meu amor, que não tinha como propósito cuidar de um doente, quando me encontrava como tal, na sua frente em um hospital.
Ninguém viu, quando quem eu tanto amei, e fui fiel, me atacou com unhadas tirando sangue de meu corpo e empunhou uma faca contra meu pescoço, simplesmente por, na minha fidelidade não confiar.
Ninguém viu, quando tentei um novo amor, mesmo sabendo não amar, mas me empenhando para conseguir, tentei me fazer entender, e fui menos valorizado que um aparelho de tv, mas hoje se arrepende por não mais, meu amor ter.
Ninguém viu, quando me apaixonei cega e perdidamente e depois de alimentar uma ilusão em meio a um vendaval de paixão, fui deixado na mão com um dilacerado coração.
Ninguém viu, quando estendi a mão e ajudei a levantar um irmão e o mesmo depois de sair da lama, pisou na minha mão..
Ninguém viu, quantas vezes chorei escondido, por humilhações sofridas por meus mais queridos.
Ninguém viu? Ninguém viu? Será!!! Deus viu!!!
J C Gomes