O meu amor tem oitocentas mãos... Miguel Martins
O meu amor tem oitocentas mãos
sensíveis e outras tantas não
se sentem senão no coração
grã feijão entre os pequenos grãos
da areia movediça em que me atolo
atol com tu por fora e tu por dentro
a dizeres que sais e então eu entro
descolas e eu voo no teu colo
Vêem-se aves demoradamente
estampando o céu azul de azul celeste
toca-se um círio pousa-se num cipreste
e em silêncio diz-se o que se sente
O meu amor tem oitocentas vidas
sensíveis e outras tantas sim-
plesmente canto de serafim
anjo entre os anjos das nuvens prometidas
- Miguel Martins