Como uma ironia do destino, ou talvez... Eliurias
Como uma ironia do destino, ou talvez algum karma tardio lhe atingindo com a força de um caminhão de carga em alta velocidade, o bloqueio me foi uma faca de dois gumes. Uma defesa mental que eu mesmo criei, paredes endurecidas construídas com lágrimas para manter a dor longe, uma dor que me privei de sentir acabou acumulada, arranhando as paredes do meu ser como um animal raivoso, me deixando em carne viva e me machucando por dentro, se tornando maior a cada dia.
Eu fui covarde, pessoas tendem a ser covardes ao assumir suas fraquezas, e eu fui um covarde patético que preferiu tentar fugir de outras formas por muito tempo, evitando sentir.
Com os anos, o "evitar sentir" se tornou "não poder sentir", pois cada reflexo de sentimento passa a ser engolido e trancado, o medo consumindo cada gama desconhecida de si mesmo que possa um dia se tornar emoção, sendo condenado a estar vivo, porém não ser mais capaz de viver, já não é capaz de olhar as pessoas e realmente enxergá-las, não é capaz de sentir um toque que não seja algo que machuque, a comida que tanto gostava não agrada e não tem gosto, o cheiro nostálgico de terra molhada já não te conforta, e nem o céu que tanto amava, o céu aos teus olhos não brilha.
Então te torna incapaz de viver, não vê futuro porque não pode se desfazer do passado, não pode se desfazer do pânico que sentiu enquanto fugia, nem a dor aguda de quando as pedras te atingiram, nem das lágrimas e o desamparo que sentiu, toda a sua existência esperando por uma oportunidade de terminar a si mesmo, não está vivo, não está morto, sente e não sente, está em agonia.