Aperto de Mão Pois é, nada como morar... Samuel Eduardo Fortes
Aperto de Mão
Pois é, nada como morar na roça e ter liberdade e tudo para comer.
Quem está em casa na quarentena vive para comer de tudo, já preparado sem saber a origem e qualidade, por quantas mãos sujas passou e se está contaminado.
O pior na comida dúbia é a cara de nojo ou suspeita de vírus que pode vir de qualquer fonte.
Aqui se pode comer para viver bem sem veneno dos agrotóxicos, congelados, enlatados e embutidos.
Levanta com o canto do galo antes do sol nascer e trabalha até ele se esconder.
Foi cedo campear o gado e ordenar as vacas e logo preparar o leite do queijo, com coalho do pingo anterior.
Correu a cerca à cavalo, pois na Fazenda nada está pronto, é tudo dia fazendo ou refazendo; e, depois com o trator deu um roçado no pasto, nos piquetes de rotação.
Lavei o que deve e coloquei na água, para matar vermes, uma colher de hipoclorito de sódio
Cortei umas fatias do lagarto mal assado, de uma novilha que quebrou o pescoço no brete na hora de vacinar contra aftose, brucelose e carbunculo, e só não aproveitamos o berro da coitada.
Agora que almocei bem e tomei um expresso, já que aqui não se planta café, pois que um ano dá a si e outro ao patrão, de vez que aqui no campo, ainda, se ferra o gado e com o martelo se dá uma pancada no cravo e outra na ferradura.
O almoço é simples mas de bom paladar, ainda que sem sal, que deve ser abolido para evitar elevar mais a pressão.
Bom apetite e o café sem açúcar, com um pingo de rapadura, para adoçar a boca e esquecer do amargor da vida de quem está preso na cidade, na própria casa e não se pode dar o luxo de um bom dia, uma boa prosa e um aperto de mão.