PEQUENAS COISAS Não há nada Maior... José D'Assunção Barros
PEQUENAS COISAS
Não há nada Maior
Do que as pequenas coisas
Um sorriso de mulher escapou dos lábios!
Deslizou suave, entre o medo e o desprezo,
Dando esperanças ao galanteador barato
O café escorreu quente e saboroso
Ao abrigo da chuva torrencial
Como se fosse o último dia, do último dos planetas
A piada velha, que há muito já não se ouvia,
Soou como nova ao som dos violinos
E provocou risos honestos
Tudo isso: cada pequena coisa
Grita que não há nada maior neste mundo
Sob este sol, ou abaixo de qualquer lua
Sim... Não há nada maior
Do que cada pequenina coisa
Celebrações
e pomposos prêmios?
Medalhas de brilho inútil
Ao abrigo das grandes causas?
O tal carro magnífico que transpôs
A festejada e ruidosa linha de chegada?
A ovacionada atriz que distribuía autógrafos?
A mansão comprada, após a venda de muitas almas?
Tudo isso, e todas as coisas “grandes”
Nada significa... E de sua parte
Não há nada maior
Do que o sabor,
Único
E sincero,
Das pequeninas coisas
São elas por quem perguntarão as vozes
Que curiosas te esperam, ao final da vida:
Onde estão elas – as preciosas pequenas coisas?
Onde estão as memórias saborosas, que são só suas?
Tuas medalhas vão para a corrosão da ferrugem
Tuas mansões vão para o lixo dos herdeiros
Mas... onde estão tuas pequenas coisas?
Pobre alma, a que não as tem...
[poema publicado na revista Nós, vol.6, nº2, 2021].