a possibilidade de elevação da... José D'Assunção Barros
a possibilidade de elevação da capacidade crítica da população confronta muitos interesses, de modo que certas disciplinas críticas ligadas às ciências humanas – como é o caso da própria História – tornam-se por vezes indesejadas no currículo escolar, particularmente nos governos ditatoriais, nos estados de exceção, e nas economias em que se tornou extremada a exploração do trabalhador através de salários baixos e condições opressivas. Mais do que o aprendizado mais simples de “conteúdos de história”, incomoda a estes interesses, sobretudo, que nos alunos dos níveis fundamental e médio sejam estimuladas a ‘consciência histórica’ e a ‘capacidade crítica’. Cidadãos conscientes são homens e mulheres capazes de lutar pelos seus direitos e de lutar por melhores salários e condições de trabalho. Leitores críticos - capazes de decifrar textos ou de entender o que está por trás das distorções discursivas, da liberação seletiva e acrítica de algumas informações, do ocultamento de outras, da exposição de discursos descontextualizados, das manipulações de toda ordem - são homens e mulheres que não se deixam conduzir alienadamente. Ter consciência histórica é não apenas compreender melhor o passado, mas também perceber com maior acuidade e acurácia as possibilidades que oferecem para trilhar o futuro. A História conscientiza, proporciona capacidade crítica, fortalece identidades que nem sempre são as desejadas pelos poderes políticose econômicos dominantes. Entende-se por que a História costuma ser tão ameaçada nos sistemas ditatoriais, opressivos e superexploradores.
[extraído de 'Seis Desafios para a Historiografia no Novo Milênio'. Petrópolis: Editora Vozes, 2019].