IANOMÂMI Ianomâmi, Procura-se quem... José D'Assunção Barros
IANOMÂMI
Ianomâmi,
Procura-se quem te ame.
Quem mergulhe nas tuas folhas
Quem respire nas tuas águas
Quem perceba nos teus frutos
A natureza que se perde
E que se ganha
Em quem te chame,
Ianomâmi
Procura-se governante
Que abra mão de governar
O índio, a criança, o amante.
Procura-se represa
Que não mais impeça o rio
De correr seu livre curso.
Ianomâmi,
Procura-se quem te ame,
Procura-se quem te chame.
Quem te chame,
Procura-se Ianomâmi.
Não mais para enfeitar gaiola
Que se mostre em ave-rara
Nas coloridas feiras de Antropologia.
Procura-se, quem tocado
Pelo Sol e pela Lua
Te liberte feito um pássaro
Ianomâmi,
Procura-se quem te chame
Quem depois de percorrer
Tantas estradas de pedra morta
Prefira as trilhas da floresta
Vivas, úmidas, sonoras
Procura-se tal caminhante
A quem, nu e luminoso,
Se transforme em Ianomâmi
[Publicado na revista Entreletras, vol.12, n°01, 2021]
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