Madrugada de Junho Chamam-me Zé, da... Petter Royal
Madrugada de Junho
Chamam-me Zé, da terra do rei. Apesar disso, um humilde plebeu.
Cidadão orgulhoso, hébrio eventual e desafortunado, estudante bem sucedido e intelectual fracassado.
Há dias não durmo. Não muito. Não.
Soluções das mais diversas foram-me apresentadas. Como meu caráter, contudo, são falhas.
Como ciência, deixam a desejar. Como técnica, ineficazes. Como crença, continuam no plano imaginativo. Um fracasso.
Ontem testei um remédio. Dormi junto ao despertar do sol.
Hoje foi diferente. Álcool. A alvorada se foi há horas e ainda escrevo estes versos.
A agonia já deixou de ser amante. Casei com ela e a traí. Raiva, minha nova paixão.
Desespero será o meu futuro. Desesperança, após ele.
Quero chorar. Também desejo vomitar. Tristemente, não tenho mais controle sobre o próprio corpo.
Minhas mãos tatilografam amontoados de rabiscos estranhos, os quais a autoria negarei pela manhã.
A falta de memória será a prova.
O sono não vêm. A angustia bate frenética a porta de meu coração. Descobriu a traição e agora cobra seu preço.
Suspiraria de alívio se ela apenas pegasse as malas, preferisse meia-duzia de ofensas, desse meia-volta e só voltasse meia quinzena depois, com um oficial de justiça e uma intimação. A dor de cabeça séria menor.
Decadência.
Ao menos não estou sozinho. A tristeza é companhia fiel. Durmo com ela às vezes, mas durmo.
Mal posso esperar pela próxima visita.
Niilista? Não, não tenho tanta sorte e nem tanta esperança assim.
Ó, Tristeza, quando voltarás? Desejo-te, fiel amiga. Se quiser-tes, caso-me contigo. Aceitarei teus egoísmos, desejos e tuas traições.
Sono, eis o que quero em troca. Apenas isto. Aceitas a proposta?
Fico feliz...