Podíamos jamais nos conhecer... Paul Géraldy
Podíamos jamais nos conhecer talvez!
Meu amor, imagine, pois,
tudo isso que a Sorte nos fez
para estarmos aqui, para sermos nós dois!
“Nós fomos feitos um para o outro” – diz você.
Mas pense no que foi preciso se interpor
de coincidências, para que
pudesse haver apenas isto: o nosso amor!
Que antes de unir nosso destino vagabundo,
vivemos longe um do outro, e sós, e separados,
e que é tão longo o tempo, e que é tão grande o mundo,
e a gente era capaz de não ter-se encontrado.
Você nunca pensou, meu romance bonito,
e que este amor correu de risco e indecisões
quando, ao encontro um do outro, em torno do infinito,
gravitavam à toa os nossos corações?
Você não sabe então que era incerta essa estrada
que conduziu nossos ideais,
e que um capricho, um quase nada
podia não nos ter juntado nunca mais?
Nunca lhe confessei esta coisa esquisita:
quando avistei você pela primeira vez,
a princípio nem vi que você era bonita...
Não reparei quase em você.
Sua amiga me atraiu bem mais, com seu sorriso.
Foi só muito depois que cruzamos o olhar...
Nós podíamos não ter lido nada disso:
Você, não compreender, e eu, nem sequer ousar.
Que seria de nós se, aquela noite, alguém
viesse buscar você antes? Ou
se, entre luzes, você não corasse também
quando eu quis ajudar a pôr o seu “manteau”?...
Pois foram essas razões, lembra-se ainda?...
Um atraso, um impedimento,
e nada existiria deste encantamento,
desta metamorfose linda!
Nunca aconteceria o amor que aconteceu.
Você não estaria agora em minha vida...
Meu coração, meu coração, minha querida!
Penso naquela doença ainda
de que você quase morreu...