Quero viver a vontade Ao chorar se... Esdras Goulart Bueno
Quero viver a vontade
Ao chorar se confirma a vida
Já que ela nasceu desde alguns meses
Quando parte da arquitetura biológica
Forjou o coração, que bate rápido várias vezes.
Som de choro assustado
Batizando o ato de viver
Contagem regressiva do tempo
Começa então a acontecer.
Exploração dos sentidos
O corpo é uma novidade
No processo de compreensão
O nascimento da personalidade.
Infância mãe de toda a inocência
Transforma em brinquedos, fantasia e percepção
Ensinando a profundidade do real
Pela narrativa da imersão.
Identificado um eu
Então, Eu passo a me ver
Percebo que o que tenho é só a mim
Em mim é só eu que posso me conter.
Narcisista não é a intenção do ser
Porém, a própria ideia da consciência
É por mim que narro a história
O egoísmo do eu firma sua existência.
Quero tudo que posso
E posso tudo o que quero
Não há um querer único
A vontade nunca está abaixo de zero.
Como um deserto sem fim
O calor nunca para de sorrir
Logo a sede se torna infinita
Beber é algo que não dá para resistir.
A busca da água sagrada
Aquela que tem o poder
Matar essa sede que só aumenta
Salgada é o gosto de não ter.
Como um metrônomo
Em batida de inquietação
Não se para a vida que pulsa
Enquanto quem marca é o coração.
Constante galopar sempre à frente
Saudosismo do começo e medo do fim
Antagonistas que se querem foram vistos
Cercas de um único pasto, bem assim.
Respirar parece fazer lembrar
Do que se tenta esquecer
Eu quero sempre na verdade
Pois enquanto assim, estou ainda à viver!