O Tropeçar de Bico Há quem diz que o... Samuel Eduardo Fortes
O Tropeçar de Bico
Há quem diz que o amor não se vê com os olhos, mas com o coração.O amor romântico é como um traje,um coração feliz, um resultado inevitável de um coração ardente de amor, que como não é eterno, dura tanto quanto dura. Embora rasgado, não há de ser menos do que sempre foi, talvez, um pouco amassado, e, em breve, sob a veste do ideal que formamos, àquele que se faz de nós e rearticula o adormecido momento que se esfacela, surge o corpo real sem a figura complexa da pessoa que se diz humana, em que o vestimos.
O amor romântico,embora como quando pego e consulto Machado,cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar. A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande, portanto, é um caminho de desilusão, talvez um caminho onde os calçamentos são sintéticos e o andar andrajo se dilui.
Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, decide atribuir dentro jarro tapado ao qual escutamos o balançar de uma corrente de ar, tecer constantemente nas cortinas de véu perante àquele moinho, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove e enriqueça a pele por ele aquecida e por dentro o espectro, talvez o aspecto da criatura por eles vestida.
O prazer do amor é amar e, sentirmo-nos mais felizes pela paixão que sentimos do que pela que inspiramos e, só se ama o que não se possui completamente.