⁠O morte do prostituto - Veja esses... Laila Zanov

⁠O morte do prostituto

- Veja esses testículos inchados. Oremos por ele? Está muito doente. Pode tocá-lo, não irá se excitar, não há risco de ereção, como bem vê. Somente dor, picos de febre, alucinações. Está sob o efeito da morfina. Sangra de vez em quando, não há mais antibiótico capaz de conter a infecção.
- E o pênis?
- Não havia pênis.
- Ele dorme.
- Sim, dorme e morre sem parar, um ato contínuo e acelerado. Muito sono, muita morte, muito pus, muitas drogas...
- Poderia ir para a casa, morreria com a família.
- Não há família, ninguém o procurou. Foi prostituição negligente. Seu ânus também está comprometido, dilacerado. Um senhor vem aqui de vez em quando, senta ao seu lado e passa um tempo, meia hora ou mais, sempre sem olhá-lo; mas beija sua face ao sair. Um beijo afetuoso de olhos fechados
- Um parente?
- Não sabemos. Apresentou-se como um amigo próximo.
- Lamentável.
- Quando extraíram o pênis.
- Não! Não fomos nós. Foi trazido por uma colega de trabalho após assistir sua automutilação, um ato de desespero e dor. Estava necrosado.
- Merece altas doses de droga. Haverá de morrer entre um delírio e outro. Poderá ser num momento feliz de amor, poderá sentir o cheiro da vida na morte, um beijo sensual, uma penetração, corpos nus, vibrantes e penitentes.
- Uma dança sensual de pedras.
- De vida.