BEM-ME-QUER Sou alimento que chega à... Leila Magh
BEM-ME-QUER
Sou alimento que chega à tua mesa nas horas mindinhas, eu, que sacio a fome dos teus e, ensino teu estômago a pensar.
Sou o calçado novo do teu filho, tuas botas confortáveis que acaricia teus pés, mas te impeço o caminhar.
Sou óculos de grau que te revela o argueiro, mas, te esconde o leão, sou venda de seda, sou grade, prisão.
Sou passagem aérea em avião de luxo, banco de couro, cálice de ouro, copo de vinho, sou conforto, sou torto, maquiado, sou O cala-boca.
Sou ultrassom, tomografia, ressonância, endoscopia, teste de aids, cesariana, vasectomia, bengala, dentadura, cadeira de rodas, não sou cura.
Sou abraço vazio, beijo gelado, dono do gado, chicote estalado, cerca de arame farpado, muro e cadeado.
Sou grande e pequena, do Norte, do Sul, de todas as regiões, sou fascista, imperialista, capitalista, racista, sexista, vampiro, sou mulher, sou homem, gigante e “anão”, da academia, do povão, sou ditoso, religioso.
Se eu fosse você não me queria, sou às oligarquias.