A mulher rica e seu filho... Ricardo Melo
A mulher rica e seu filho picolezeiro.
O reencontro
Em uma estação,
Ainda muito pequeno,
Mas, já trabalhando como sorveteiro e o que mais pudesse me render algum dinheiro.
Caixinha de isopor nos ombros.
Garganta afinada e ladainha decorada:
-Olha o picolé! -olha o sorvete minha gente!...
Vendia muito e o dinheiro arrecadado levava para o orfanato de onde eu saia todas as manhãs para trabalhar.
Em uma tarde de quinta feira;
Se bem me lembro,
Passava das 14 horas.
Aquele sol escaldante;
Aquele raio de luz me deixava ofegante.
Estranhamente, de mim se aproximou uma senhora;
Segurou-me pela mão
E pediu-me um pouco de atenção.
E sua história a mim, foi falando.
Menino,
Nem seu nome eu sei;
Desconheço tua moradia,
Mas percebo em ti um coração gentil e inocente.
Permita-me contar um trecho de minha história?
Eu era uma casta menina;
Menina do interior,
Fui rejeitada por meus pais,
Fui maltratada pelos irmãos.
Fui odiada pelas redondezas.
Somente porque amei demais.
Conheci um jovem lavrador,
Homem forte e trabalhador.
Pele queimada pelo sol,
Gentileza era um de seus atributos.
Vivia com seus pais,
Pessoas ignorantes, sem estudo e sem cultura;
Para eles, tudo se resolvia a base da gritaria.
Namoravamos escondidos;
Nossos encontros eram intensos e cheio de promessas;
Fizemos juras de amor e não imaginavamos que pudesse haver muita dor.
A minha familia dediquei anos de amor, trabalho e gratidão;
No entanto, o troco que tive, foi desprezo, desrespeito e falta de compreensão.
Por não ser respeitada e devidamente amada,
Resolvi fugir para bem longe dali;
Deixando meu grande amor para traz,
Levando dentro de mim,
Uma eterna dor.
Parti para a cidade grande, em busca de uma vida melhor, mas nem sempre os sonhos de uma menina leiga, conseguem se concretizar.
Chamaram a polícia,
Noticiaram meu sumiço nos jornais.
Mais nunca me encontraram
Em busca de trabalho, conheci um casal de recém casados e com eles fui morar.
Para aquele amor deixado para trás,
Escritas minhas incontáveis e sem respostas, cansei de enviar.
Percebi,
Que ele não me amava o suficiente de maneira a vir me encontrar.
O tempo passou, e para aquele casal, continuava a trabalhar.
Até que um dia, a moça recém casada, decidiu fazer uma viagem.
Nos trinta dias em que ausente ela estava,
Aquele homem, seu esposo, Invadiu o meu estreito quarto e de mim se apossou.
Vedou minha boca com uma de suas mãos,sem saída,
Passada e sem chão eu fiquei.
No início, para mim foi uma tortura, mas com o passar dos minutos, por aquele homem gentil e carinhoso me apaixonei.
Cada toque, era um arrepio.
Manso, Sereno e por mim apaixonado.
Meus sentimentos afloraram e pensei estar vivendo um eterno romance.
Todas as fortes tempestades que passei,
De repente, se tornaram uma garoa morna e fina que caia em noites de inverno.
Todas as noites,
Dormia em seus braços como uma meiga e desprotegida menina.
Nunca recebi tanto carinho e atenção.
Ele foi o primeiro que me tocou e em meus ouvidos só fazia juras de amor.
Sem conhecimento algum,
Só queria ser amada,
Levada pela carência,
Entreguei-me aquele homem, de corpo, alma e coração.
Mas nem tudo é para sempre, ainda mais, um amor proibido.
Ao retornar de viagem, sua esposa algo estranho cismou.
E para piorar a situação, Grávida eu já estava daquele homem.
Meses passaram-se.
Dias e noites chorei, por não tê-lo mais a meu lado e não saber do futuro que não desejei.
Aquela mulher,
Percebendo minha barriga crescer sem parar,
Parecia que ela ja sabia do pecado que lhe rondava.
Contei,
Contei tudo que tinha acontecido,
Pois medo da verdade eu não poderia mais ter.
Ao ouviu minha história, calada e chorando ficou.
De joelhos pedi perdão. Implorei-lhe para que não me expulsasse daquele recinto.
Muda, sem voz ela chorou, jurando que não iria fazer mal a ninguém.
Meu filho nasceu.
Menino sadio, de olhos claros como o verde de grama sintética.
Coloquei nele o nome de meu pai.
Mesmo desprezada por ele, sempre o amei.
Mário José.
Menino valente, crescia sorridente como sementes em terras férteis.
Numa manhã gelada,
Um estouro no andar de cima.
Aquela mulher,
Tirara a vida daquele homem por minha causa.
Tomada por ódio,
Me expulsou de sua casa me deixando na rua com um pequeno inocente nos braços.
Os dias se passavam,
Bateu a fome, a sede e o desespero e eu na rua com aquela criança, não podia cria-lo.
Doei aquele bebê...
Sangrando e me sentindo quase sem vida, entreguei-o a um casal e nem olhei para trás.
Queria fugir da realidade mais na verdade ela sempre estava comigo.
Chorei prantos, nossa como chorei!
Chorei lágrimas de sangue e quanto mais eu chorava ,mais minha alma entristecida ficava.
Sempre acompanhei aquele menino de longe, mas não tinha como nele chegar, pois condição nenhuma eu tinha de criar.
Doze anos se passaram, e dessa cidade precisei mudar,
Mas sempre tive na mente, que um dia com meu filho eu iria estar.
Muito trabalhei,
Hoje sou uma empresária bem sucedida e
nada me falta.
Com muita luta e perseverança, venci.
Ao olhar para ti lembrei daquele menino que um dia aqui deixei.
E Você menino!
Tem ideia do que é passar por isso?
O menino responde:
- Minha história é bem semelhante a sua.
Meus pais adotivos morreram e em um orfanato eu vivo.
Meu nome é Mário José, essa coincidência não te diz nada?
A mulher já em prantos de um salto se levanta e começa a chorar.
Não chore minha mãe,
Sou seu filho,
E agora, faremos de nós, uma nova história.
Tudo o que o mundo nos tirou, Deus em sua infinita misericórdia nos uniu e abençoou.
Me dê logo um abraço,
Pois ele,
Será o primeiro que na vida eu vou ganhar.....
Autor:Ricardo Melo.
O Poeta que Voa