BUSCAS O que você busca? Não foram... Antonio Carlos Machado
BUSCAS
O que você busca?
Não foram poucas as vezes que me perguntaram:
Por que você escreve?
O que você busca?
E entre as muitas respostas ambíguas para perguntas que remetem aparentemente a definições objetivas eu digo que escrevo porque é o que sei fazer melhor e eu busco discernimento do que eu vivo de uma forma mais profunda, não busco respostas, busco clareza, busco dirimir as dúvidas, dúvidas que a maioria das pessoas não tem, por que não se inquietam com os conceitos e verdades que acreditam e isso não é defeito ou qualidade é apenas característica de personalidade.
A vontade ou em muitas situações a necessidade de escrever é um desemboque, uma erupção, a mensagem verte da ponta dos dedos, escrever é criar, dar uma versão particular a um fato, um sentimento, uma estória.
A busca pode ser um objetivo, uma carência.
Pessoas traçam metas que querem alcançar e isso pode ser planejado, estruturado, medido e acompanhado, isso é baseado em lógica e passa por processos de ressignificação e revisão de valores, tudo muito ponderável e sensato.
Buscas por si mesmo são questões complexas, envolvem autoconhecimento e consciência de si mesmo, as pessoas que buscam por si mesmo têm uma incompletude patente.
E o que é buscar por si mesmo?
Talvez a resposta mais convincente seja: buscar reafirmar o que já se sabe ou sentir que algo mais sólido falta em suas convicções. Uma aceitação de limites ou por outra o sentimento de romper esses mesmos limites.
A busca é sobretudo uma grande escolha e é comum não saber fazê-las e viver em constante alternância dessas mesmas escolhas.
Da mesma forma que desejamos coisas e após a conquista delas troquemos esse desejo por outro, a busca seja por conhecimento ou por esclarecimento também pode ser alternada disso para aquilo, é humano.
Os fatores externos acabam trazendo um grande ruído a essa busca, porque damos importância aos nossos pares esquecendo que vivemos a partir de nossas vivências e a consistência de nossos valores está diretamente ligada ao que vivenciamos e não ao que observamos no outro.
O que torna a busca uma grande viagem consciente é a convicção de que temos a liberdade de buscar, a sensação de que essa liberdade nos fará melhores, mais confiantes ou menos inseguros.
Uma penúltima conclusão (última nunca será) a respeito da busca por si mesmo é o reconhecimento da necessidade que todos temos de considerar, tanto a vulnerabilidade de nossas convicções quanto a possibilidade de convivência com a convicção do outro, sabermos que as experiências sobre o mesmo assunto, podem ser vividas de maneira distinta e todas elas são válidas, para todos, inclusive para nós que não as temos todas