DIÁ-LOGO Não existe animal outro... Bruno Cidadão
DIÁ-LOGO
Não existe animal outro
que consiga palavras falar,
talvez por isso, nós humanos
temos sempre que pensar.
Ora é diálogo, ora é o-diá (lo ou lá),
mas é sempre logo
porque pra amanhã
hoje não será.
A poesia é sangria,
mas o afago sempre vem.
Pois mais bem sinto
em diálogo
do que do silêncio
sendo refém.
Sabe, moça, você é meu presente
não que eu sonhava ter,
mas o que eu precisava
nessa hora de me moldar.
Paciência você me tira,
mas pego sempre a sua
de forma a revidar.
Nosso diálogo
daquela noite
foi todo de invejar,
nunca antes conseguimos
por muito tempo sem brigar.
Eu acho que a gente está,
sem querer querendo,
perto de um lugar:
a convivência pacífica,
o lar.
Menina, mulher.
Teu jeito me cativa
e não canso de falar:
você é toda piradaça
e isso é meu desandar.
Ah, se você soubesse
ou mesmo se pudesse
ao lado estar,
lhe veria com meus olhos
e escutaria meu falar
de um jeito tão doido
que nem sei explicar.
Como diria Dominguinhos,
"que falta eu sinto de um bem",
ou como diria Renato Russo,
"quero colo...",
mas também como Raimundos,
"complicada e perfeitinha",
ou como Jão,
"cê vai me destruir",
porém como Tiago Iorc
"espero aqui pra ver o sol nascer",
e como Titãs,
"devia ter aceitado as pessoas como elas são",
e ainda como Djavú,
"o que pensa que eu sou,
se não sou o que pensou".
Às vezes te percebo nas músicas,
outra vez em poemas,
às vezes no Instagram,
de vez em quando no cinema,
às vezes te sinto como eu,
de longe, rebenta,
às vezes sei que sou
pra você um dilema,
outras vezes me enxergo nada
ou parte de um esquema,
só não espero de você
a cessação do diálogo
ou a manipulação de um tema,
pois diferentes que somos,
já temos um problema:
assumamos hoje ou não,
ficar distante um do outro
já virou problema,
pois sentimos falta da presença,
do valor de um diálogo,
da noite sem algema,
da princesa sem maquiagem
e do príncipe sem vitória,
não importando se é dia
ou noite,
importa somente o diálogo
e a sentença.