O DESABAFO Opa amigo! Chegue-se e... Ricardo Melo
O DESABAFO
Opa amigo!
Chegue-se e sente-se
Não repare esse recinto
É humilde mais é aconchegante
Mandei te chamar
Pois preciso com alguém desabafar
Nessas condições climáticas
Cuido muito da minha saúde
Pois na idade que tenho
Não posso facilitar.
Vou ser breve e
Prometo-te também ,em não demorar
Há muito tempo estou aqui
Aqui nasci e me criei
Aqui cresci e me casei
Um jovem moça conheci
Bonita como uma flor
Se bem me lembro
Eu tinha vinte anos
Tivemos uma única filha
Que ao dar a luz
Logo cedo morreu
Foram muitas primaveras
Outonos carregados de frutos
Já vi de tudo nessa vida,
Mas nada parecido
Com o que te narrarei.
Foram cinquenta anos de casado.
Quem inventou esse tipo felicidade
Não pensou que iria existir a tal
Afamada dor.
Mundo cruel esse!
Fui bem criado e não tive estudos
Amei e fui muito amado, porém, no ano passado;
Um momento tirano e espantoso me tirou o chão
Levando-me ao total desespero e solidão.
Um caçador jovem e destemido,
Passou perambulando aqui pelas redondezas.
A sua espreita
Uma onça pintada, brava como uma fera.
Ali em baixo no grotão,
Minha velhinha estava lavando roupas
Na tábua do Ribeirão.
Eu estava na colina,
consertando cercas
Cuidando da boiada
E dando milho para as galinhas.
De repente,
Um tiro de espingarda ecoou além das fronteiras
Doendo até os meus tímpanos.
Jamais imaginei que faria parte de tamanha desgraça.
Quando chego no barracão,
Com meu cachorrinho que sempre esteve a meu lado.
O caçador ja estava ali parado
Montado em seu alazão
Na garoupa ,uma onça pendurada.
Minha velhinha na frente do seu assento.
Com a roupa toda rasgada
Ajoelhei não acreditando e ao mesmo tempo já sabia da morte do meu amor.
O moço era educado.
Aparentemente era um jovem estudado.
Ele chorou dizendo:
-Eu juro!
-Eu juro que não queria matar sua amada.
Mas na verdade foi a onça quem deu
O golpe fatal.
Minha atitude foi matar o felino implacável, que até um pequeno menino não poupou...
Fera indolente,
Fera impaciente.
Impiedosa felina com filhotes
E ela estava com fome e agora que que estou sabendo quê aquele menino é o seu netinho
Que a fera também,
Devorou.
Autor:Ricardo Melo
O Poeta que Voa