Hoje conheci Fabiana. Ela entrou em... Carina Barros FortalezaCE
Hoje conheci Fabiana. Ela entrou em minha sala, sentou, e me olhou timidamente. Em virtude da máscara, sorri com os olhos como um sinal de boas vindas, me apresentei, e em seguida ela foi contando um pouco da sua história. Fabiana é uma mulher trans, cuida da sua mãe de 82 anos, e das duas tias, de 84 e 86 anos de idade. Ela é responsável integralmente pelas idosas, pois os demais da família, pessoas ditas de bem que rejeita Fabiana, não tem tempo para cuidar e nem boa vontade de visitá-las. Fabiana tem um olhar forte, acolhedor, cheio de luz. É aquela pessoa que quando se aproxima traz junto um monte de coisas boas. Fabiana sorria todas as vezes que eu lhe chamava pelo nome. Um sorriso amplo que puxava a máscara para cima. É que no documento de identidade de Fabiana, há um nome que lhe violenta, o qual a sociedade insiste em chamá-la mesmo sabendo que Fabiana é uma mulher trans. É tão simples chamar as pessoas pelo nome que elas escolhem/gostam. É tão simples respeitar as diferenças. É tão simples acolher ao invés de julgar. É tão simples reconhecer a humanidade no outro. Por que as pessoas ditas de bem são tão cruéis, Fabiana? Se são pessoas de bem, como afirmam por aí, por que elas não doam o bem, assim como você, Fabiana, que resiste construindo pontes, afetos, cuidado, empatia. Hoje conheci Fabiana. Ela saiu da minha sala, mas a sua historia ficou. Fabiana permanece em mim. Eu sigo insistindo em acreditar que quando o mundo for um lugar bom, justo e humano para Fabiana, mulher trans, negra, da periferia... ah, esse mundo vai ser bom para todos. Há de ser, Fabiana.