Sempre ouvi que deveríamos dizer... Marcella Tavares Saraceni
Sempre ouvi que deveríamos dizer “sim” para a vida
De lá para cá aceitei de um tudo:
Convites para aniversário de cachorro
Inauguração de prédios comerciais
Comidas com coentro
E presenças vazias
Sem mencionar que nada daquilo me apetecia
Quando decidi, um dia, caminhar na contramão
Decretaram proibida qualquer negação
Desde então reviro os olhos
Cruzo os braços, bato os pés
Giro a cabeça para a direita e esquerda
Faço o movimento de parabrisa com os dedos
Deixo o corpo imóvel, estatelado
E discordo sem o uso da palavra
Durante as frases ainda é difícil deixar de mencioná-la e corro o risco do exagero quando a
substituo por “jamais”, “negativo” ou “nunca”
Mas quando preciso verbalizar deixo que meu corpo fale e a carrego na testa.
Só é imperceptível para aqueles que querem ver