Parei de ouvir o que os olhos queriam... Alê Maria Borboleta
Parei de ouvir o que os olhos queriam ver e passei a ouvir o verdadeiro que habita em mim. Se um dia encontrei felicidade no auge de todo o material, não foi a verdade que me vestia. Só me vesti de felicidade quando a vida estreitou os caminhos e as oportunidades, até então tão importantes, se restringiram. Desencontrei muitas pessoas, não enxerguei a mão que me brindou numa festa e não tive nada a oferecer senão a minha presença. Nesse momento ouvi uma simplicidade brotando de momentos que já não vivia com tanto entusiasmo. Ouvi meus pés caminharem por ruas que jamais conheceriam se meus caminhos não estivessem se estreitado. Ouvi sorrisos amorosos de desconhecidos. Ouvi o falar manso de um idoso que pegou o ônibus para sua consulta. Ouvi a mãe segurar seu bebê logo de manhã dando amor, proteção e carinho a ele. Ouvi orações matinais de "rezadeiras" que se enchiam do espírito santo. Ouvi crianças chegarem sem carro para a festa, mas felizes por terem passeado. Ouvi a lua sozinha me dizendo que o que importava na vida estava comigo, ali, todos os dias. Ouvi a coragem me trazendo de volta, sacudindo todos os meus sentidos, fazendo ventania no peito e escancarando para meu ego que eu não sou o que tenho, porque sou superior a tudo isso. A bagunça virou-me do avesso, e por ironia da simplicidade, é desse avesso que eu precisava para essencialmente ser feliz.