À deriva A sensação do que se... A. Ballarin
À deriva
A sensação do que se tornou minha vida nos últimos meses é como ter desistido de atracar o barco e ter saído para o alto mar.
Deixei o barco à deriva. Resolvi só aproveitar a paisagem. Durante esse tempo, houve muita calmaria, houve brisa tão boa que não dava vontade de abrir os olhos, houve noites tão estreladas e claras que dormi ao relento mesmo. Ainda sinto todas as sensações desses dias. Tive momentos tão incríveis que nem lembrei que existia terra firme.
Mas também teve tempo ruim, dias que o barco girou e girou até me deixar tonta. Teve tempestades leves, daquelas que você se recolhe para se protejer, deita e se cobre e quando acorda já passou... teve tempestades horríveis também, daquelas que você tem tanto medo e reza. Daquelas que você nem pisca e não vê a hora de acabar. Mas passa, dias bons passam e tempestades também passam. É a vida sendo vivida.
Hoje me encontro organizando o barco depois da tempestade. Muita sujeira e muita água por todo lado. Falta comida e água doce. Falta o básico.
Concluí que à deriva fico desconectada demais. Vulnerável demais. Existe muita coisa acontecendo em terra firme.
Preciso terminar a faxina e ligar o motor. Preciso me localizar no mapa, reconectar e abastecer de tudo.
Nessa viagem talvez eu queira parar numa ilha deserta. Não estou convicta do destino.
Usarei a âncora dessa vez...