13 de maio Querido Josh, hoje é meu... Audrey P.B
13 de maio
Querido Josh, hoje é meu aniversário. Claro que você sabe disso porque a prof. Mia fez todo mundo cantar parabéns para mim na aula de literatura. Todos cantaram parabéns e na hora do “com quem será? ” Disseram seu nome. Eu quis que um buraco se abrisse no chão para me engolir. Você retrucou a disse para a professora Mia que se casaria com uma velha rica. Ela te chamou de idiota por abrir mão de “uma jovem bela” como eu por uma velha rica. Eu ri no momento, mas agora eu sinto a depressão se arrastando sobre mim. Eu fico pensando se ter feito você esperar pelos meus 15 anos para me beijar teria tornado as coisas diferentes. Teria feito você me amar? Eu creio que não. Eu não sei se certas coisas são evitáveis e você escolheu mentir para mim e isso é imperdoável. Mesmo te amando eu me pergunto se um dia eu poderei confiar em você novamente pois o fato de você mentir para mim quebrou qualquer confiança que eu poderia ter em você ao longo do tempo. Eu ando pela sala e olho um retrato do ano passado-semanas antes da formatura- e acaricio seu rosto. Maria Bethânia canta no rádio e eu choro pensando que “no nosso retrato pareço tão linda”. Eu estava linda. Eu estava feliz. Eu estava inundada de amor e poesia e...esperança. Eu era completamente diferente na época e nem sabia! Eu nem sabia que te amava, Josh! Eu nem sabia que dentro de mim cabia tanto sentimento! Josh, estamos tão felizes na fotografia e eu era feliz, eu era feliz, Josh! Tom Jobim e Chico Buarque não leram minha alma ao comporem a música pois eu não existia na época, mas eu agora me sinto desnuda como se Bethânia revelasse todo sentimento em mim. É como se eu visse toda minha dor de uma vez só exposta no rádio, exposta em carne viva para qualquer um que passar na rua ver. Ver que eu te amo. A minha dor é tão evidente que eu até tenho olheiras. Eu, no auge dos meus 15 anos tenho olheiras e eu nem sei quando ao certo elas surgiram. Elas surgiram do dia para a noite tal qual meu amor por você e como ele elas me ferem continuamente e me maltratam, como me maltratam! Pensei em te ligar e dizer confusões no gravador, algo para você me notar, para pensar em mim e para certamente me achar tão ou mais ridícula do que você já acha, do que você já pensa de mim. Ano passado era dezembro de um ano dourado, era amor, era primavera, era verão, era poesia, era calor, era delírio. E hoje eu já nem sei o que é. Eu já não me reconheço mais, eu não pareço fazer mais parte desse mundo como Marilia de Dirceu a procurar seu amor, seu amante que nunca voltará. Quando a prof. Mia contou a história de Marília eu quis chorar pois Josh eu sou a Marília de Dirceu do século XXI! Eu sou a moça esperando na janela para o cavalheiro vir busca-la, vir amá-la para tirá-la do sofrimento e ela chora! E ela sou eu e eu já não sou a moça sorridente do retrato. Eu já não sou tão linda e meu sorriso não é mais luminoso e meus olhos estão sempre molhado e eu sinto uma dor que eu não sabia ser possível sentir! Eu queria gritar com você e dizer que você me desgraçou para sempre e que eu te quero tanto! Eu gostaria de poder voltar...voltar para dezembro, para o bolero, para um tempo em que minha alma exalava Tom Jobim e bossa nova e eu amava sem saber, mas já amava você. Eu sinto que não terei teus beijos nunca mais e penso que não é justo, não é justo porque eu te amo. Era para você ser meu e eu ser tua! Era para você ser Dirceu e eu Marília e você cantaria para mim ao pôr do sol e diria “carpe diem” porque o dia acaba e precisamos vive-lo antes que seja, tarde, antes que ele vá. E no fim de tudo a minha carta é um lamento, um pedido, uma súplica. É um pedido para você me amar antes que seja tarde pois a adolescência é um pôr do sol e quando a gente pisca é adulto sem perceber. Eu quero que você aceite meu pedido e me abrace ao pôr do sol porque logo anoitece e sinto frio. Segure minha mão e vamos ver o pôr do sol antes que ele morra, antes que eu cresça e te esquece, antes que eu desfaleça. Ao invés disso seus olhos fogem dos meus e eu não sei se te esqueço ou se olho o retrato, mas rezo para que a música não seja uma profecia e que eu ainda te beije, que ainda haja esperança para nós dois.
Com amor, Annie.