Em vias vazias, quando a noite vira dia,... M Clara M.
Em vias vazias, quando a noite vira dia, memórias tão livres derramam-se sobre meu corpo como quem não se quer envolver. Lembranças que são taciturnas partem-me à força em minhas meras infortunas noturnas, dilacerando em pedaços o último espaço que me restava na sala de espera dos sonhos. Embalam-me em uma dança alucinante, e o ritmo dançante do pecado da vida se retira de nós e me mata à fria covardia, apunhalando dúvidas diurnas em minhas certezas noturnais.
Vejo o tempo à espera do raiar solar, e me vejo de mãos abertas a clamar, pelo último que seja, o mais puro ou o mais sujo, apenas mais um gole de luar. Bebo-me e me engulo, viro lua, viro a noite, as confusões que antes pairavam sobre minhas asas de cera, hoje fazem-me voar.
Sinto minha vida passar ao longe, e como a verdade que se esconde, hoje sou aquela que não se vê levitar sobre os campos floridos da honesta existência de minha dor, que apesar de tudo, ainda há de se sanar.