⁠Não há quase diferença nenhuma... Esther Vilar

⁠Não há quase diferença nenhuma entre uma mulher sem pintura, calva e nua e um homem sem pintura, calvo e nu. Com exceção daqueles órgãos que servem para a reprodução da espécie, tudo o que distingue o homem da mulher é criado artificialmente. O homem torna-se homem pelo desenvolvimento da sua inteligência e da conseqüente produtividade (o seu aspecto quase não varia durante esse processo). A mulher torna-se mulher por estupidificação gradual e pela modificação do seu aspecto. E essa diferenciação dos sexos verifica-se, exclusivamente, por iniciativa da mulher. Um homem só é considerado “másculo”, conforme já vimos, após uma série de atos de amestração femininos. A mulher, no entanto, modifica-se sob sua própria direção e torna-se “feminina” com o auxílio da cosmética, da arte de pentear-se e do vestuário. Essa feminilidade artificial fabricada consiste de dois componentes: a acentuação dos caracteres sexuais secundários, já descrita em outro capítulo, e o exotismo conseguido pelo efeito da máscara. Pois, como a multiplicidade das suas máscaras a mulher só tem uma finalidade: apresentar tão nitidamente quanto possível a diferença entre si e um homem qualquer.
Acentuando os seus caracteres sexuais, torna-se cobiçada pelo homem, e com o resto da mascarada torna-se para ele misteriosa –converte-se no sexo estranho, o sexo cintilante, o “outro” sexo, e isso facilita a o homem a sua sujeição. Graças à vasta escala de possibilidades de transformação que tem ao seu dispor – uma “verdadeira” mulher muda de aspecto todos os dias – está constantemente a impressionar e a surpreender o homem. Além de ganhar tempo: enquanto ele tem de se esforçar para redescobrir a mulher do dia anterior para lá do seu aspecto modificado, pode ela realizar tranqüilamente seus planos – que consistem em manobrar o homem para uma posição tanto quanto possível irremediável – e distraí-lo do cheiro de decomposição espiritual que exala por todos os lados sob o agradável manto de sua mascarada. A mulher considera-se, pois, tão somente, como matéria-prima para uma mulher. Não é o material que se aprecia, mas o resultado. Sem maquilagem, penteados elaborados e colarzinhos, as mulheres praticamente ainda não existem – isso explica, também, porque tantas delas andam por aí, sem a mínima vergonha, com rolos e rosto engordurado: ainda não são elas, estão a fazer-se! – e a ficção tem tanto mais sucesso quanto menos inteligência lhes barrar o caminho. Para que seja um êxito a metamorfose em mulher, jamais se pouparam a esforços. Jamais qualquer tratamento cosmético foi considerado demasiado moroso ou demasiado caro por uma mulher desde que se trate de fabricar aquele produto acabado que tão flagrantemente se distingue do homem. Engordurando a pele, esta foi-se tornando cada vez mais lisa e mais diferente da do homem, usando o cabelo comprido ou encaracolado, também preta não os torna alguma mais bonitos, mas completamente diferentes dos olhos dos homens: estranhos, misteriosos, inquietantes.