quando eu falo das tuas pintas em voz... Ágnes Souza
quando eu falo das tuas pintas em voz alta
é para me lembrar o quanto amo tuas pintas
e os caminhos que elas percorrem pelo teu corpo
por falar nisso
tu consegue saber até onde tuas pintas habitam teu corpo?
eu poderia te propor um jogo mas
me obrigaria a ter a mínima noção de geografia
me obrigaria a ter a mínima noção de como manusear compassos
e réguas
e fitas métricas
e pinceis de tinta que saem com água corrente
me obrigaria a ter a mínima noção de descobrir teu corpo de forma imediata
eu não tenho pressa
tu me fez passar a não ter pressa
então, toda semana quando descubro uma pinta nova vasculhando tua pele
anoto em um post-it
a data o mês a cor da tua blusa e
a quantos graus estava a pinta e a quantos com meus olhos estavam dela
claro que faço isso de forma aproximada
a única coisa exata disso tudo seria eu descrever tua cara quando eu falo delas
“tuas pintas são as coisas que eu mais gosto em tu”
eu poderia casar esse poema com o poema que fiz sobre as minhas marcas
desculpa eu não tenho tantas pintas
mas o caso é que eu sonhei esses dias com o jogo que não propus
nem vou te propor
traçar tuas pintinhas de modo que me ajude a seguir de forma linear
sem me atrasar na chegada
traçar tuas pintinhas de modo que eu me acomode com um único trajeto pelo teu corpo
isso não se faz
eu tenho poucos planetas em terra você sabe
mas ao mesmo tempo penso que se eu traçasse não uma
mas tantas rotas para chegar em algum ponto
que eu descobrisse também como preferido pelo teu corpo
me levariam talvez a partes ainda não exploradas pela minha pele