Chamaram-me gênio, poeta brilhante,... António Prates
Chamaram-me gênio, poeta brilhante,
fizeram-me versos, mandaram-me flores,
julgando-me perto e eu tão distante
das palmas que tive em tantos louvores...
Não sou o que julgam, tampouco o que pensam,
da minha virtude tão rica e tão falsa,
só quero que as lutas que tenho se vençam
como um vinho branco adoçado na balsa...
Se fui perseguido a mim devo e à coragem,
por todos aqueles que um pouco me devem,
e a todos lhes presto uma justa homenagem
com os falsos preitos que os santos recebem...
Não quero que tenham remorsos ou pena,
não quero que acendam a luz que apaguei,
só quero o destino, que ao longe me acena,
e o gosto agridoce dos versos que dei.