Caiu nas minhas mãos, pena não ter... Vitor Ribeiro
Caiu nas minhas mãos, pena não ter caido no chão, uma revista especializada em negócios, daquelas empresas que dão tudo certo, pelo menos no papel, papel couchet, brilhoso, diga-se de passagem. Mas, esqueçamos da embalagem e nos atemos ao conteúdo. Não se fala em outra coisa em tempos de alta tecnologia senão da tal interatividade que nos aproxima a todo momento. Parece que vivemos 24 horas dentro de um vagão de trem lotado daqueles que chegam à Central do Brasil todos os dias, tal a sensação de estarmos tão juntos, tão colados o dia todo. O mundo, que deve estar do mesmo tamanho, parece, de fato, cada vez menor. " O mundo na palma da sua mão" apregoa vorazmente à indústria dos celulares, assassinos dos telefones fixos. Interativos e obcessivos que fazem com que as pessoas esperem respostas rápidas, mesmo que inadequadas, o que importa mesmo é estar "On Line". Pois é, atreva-se a não responder , e você pode perder um amigo em segundos. Ninguém vai querer falar com você, porque ninguém quer conversar com ninguém, o que importa mesmo é mandar "gifs, emojis, selfs e outras mensagens quase sempre fora de contexto do que alguém quer dizer, mas não tem coragem de falar.
Cadê o cartão de natal e as longas conversas ao telefone? Cartas de amor??? Deixa para lá...
Mas, eis que você, um simples mortal em busca de um lugar para curtir a si mesmo e o seu silêncio, encontra aquele Bistrô em Teresópolis onde encontra a solidão que tanto procura. Após o pedir aquele café expresso acompanhado do bolo de laranja que acabou de sair do forno, você desliga o celular, tá bom, vá lá, coloca no modo silencioso e começa o folhear o seu estimado livro que será sua única companhia na próxima hora. Após a primeira página, você percebe a chegada do casal de velhinhos que apoiando-do um ao outro, senta-se à mesa bem ao seu lado. Ameaça à vista? Você se pergunta. Claro que não, você responde aliviado ao lembrar que esta geração ainda prefere uma boa conversa ao pé da letra do que escrever mensagens naquelas letras miúdas que não cabem no raio de visão daquelas pessoas de cabelos ralos e brancos. Contudo, a tecnologia é para todos e o velhinho saca seu celular voltado para a terceira idade com teclas gigantescas e iluminadas e começa a teclar ferozmente as teclas do aparelhos para, pouco depois, colocar àquele vídeo irritante.. Sim, tem algo que estes moderníssimos aparelhos ainda não resolveram: a surdez. Assim, por mais qie você se concentre em sua leitura, ou pratique medição transcendental é impossível não ouvir aquela mensagem em alto e bom som onde o netinho relata eufórico a confusão no colégio quando o aluno tacou uma pedra na cabeça da professora de matemática. Alheio a tragédia humana, o moleque ainda envia um vídeo com o último clip que ele curtiu no You Tube: um inofensivo vídeo da Peppa Pig, a porquinha que estrela uma série infantil animada. A cena, que mais se parece com um thriller de terror, tem um dentista que aparece com uma seringa gigante e Peppa tem os dentes arrancados, tudo ao som de um choro angustiado.
Então, você bebe seu último gole de café, pede a conta e vai embora deixando a metade do bolo sentindo-se derrotado pela interatividade dos tempos modernos.