— O que te assombra à noite, digo,... Harlies Dhascar
— O que te assombra à noite, digo, antes de dormir?
— Não sei. Do que você tem medo?
— Tenho medo da estupidez humana, desse mundo doentio. São eles que me causam pesadelos.
— Eu tenho medo do fim do mundo… do amor se acabar.
— O amor acaba?
— Às vezes acaba.
— Quem te disse isso?
— A vida. Às vezes ela cochicha coisas no meu ouvido e eu prefiro acreditar.
— Eu preferia acreditar em contos de fadas, a realidade me machuca.
— Às vezes tem que deixar doer, são os riscos que corremos por sermos humanos.
— E se eu não quiser mais ser humano?
— Não existe isso de deixar de ser humano. Você nasce e isso é pra sempre.
— Ser estúpido é pra sempre?
— Só é estúpido quem tem pressa pra viver.
— Eu gosto de viver devagar, mas tem dias que parece que temos tão pouco tempo…
— Dizem que tem gente que nasce e vive pouco, que vai embora cedo, sabe?
— Quem te disse isso, a vida?
— Não, o mundo doentio, esse que você tem medo. Eu também li no jornal. É tanto sofrimento que dá até medo de existir assim…
— Então o que falta é amor para as pessoas viverem mais?
— É o que parece. Só não pode amar demais, em excesso.
— O que acontece se amar demais?
— Alguém deixa de existir.
— Não entendo. Agora eu tenho medo de amar.
— Amar faz mal só quando é demais porque às vezes sufoca, te prende o ar, e amar não é prender é se libertar.
— É por isso que tá acabando?
— O mundo?
— Não, o amor. E se um dia acabar?
— Parece que o mudo também acaba, e as pessoas deixam de existir.
— Quem te disse isso?
— A vida que me disse.
— A vida te conta muita coisa.
— Ela conta pra todo mundo, mas nem todo mundo quer ouvir.