Culpa do confinamento. O texto é um... ivo terra mattos
Culpa do confinamento. O texto é um pouco longo (Não é conto, é verídico)
No segundo ano primário, ano de 1955, eu estava muito mal na escola e com muitas dificuldades em lidar com letras e números, só notas baixas. Naquela época, não sei hoje, os alunos tinham que levar o boletim para casa, mostrar para os pais. os pais com aquele método acompanhavam a vida escolar dos filhos..assinavam o boletim e o aluno devolvia para a professora. . No meu caso especifico era minha irmã que cuidava desta parte, ou seja,ela era quem assinava o boletim.Para piorar a situação ela trabalhava no Carmela Dutra e me controlava no dia a dia, também.
Num determinado mês, a coisa, que já estava ruim para o meu lado, ficou pior. Meu boletim vermelhou. Aí, tive uma ideia brilhante: Transformei tudo que era três em oito, bem fácil. E quatro em nove , fácil também, só que continuaram vermelhas, infelizmente.. Esperei minha irmã ficar ocupada com os afazeres da casa e no momento certo pedi para ela assinar o boletim. Ela nem percebeu a besteira que eu tinha feito.-- No dia seguinte, cheguei na classe e coloquei o boletim sobre a mesa da professora. Depois de um tempo, ela me olhou, pegou meu boletim e saiu da classe. voltou acompanhada da diretora e da minha irmã. Fui guinchado literalmente pelas orelhas, a diretora de um lado e minha querida irmão do outro. Me levaram até à sala da diretora. Depois de ter confessado o crime, veio o veredito: a diretora, uma mulher da mão maior que a minha cabeça, parecendo um pão caseiro, desferiu um tapa na minha cara com tanta força, que mesmo tendo passado todos esses anos, ainda sinto o impacto da bofetada.. As lágrimas molharam o piso da sala. Depois do castigo físico, veio o psicológico: tive que ficar grudado na parede, exposto para que as outras crianças me vissem. Mas existe a lei do retorno., menos mal:
Meu pai, um homem abrutalhado, não era muito de conversar com os filhos, mas vez ou outra, contava umas histórias, a maioria de fantasmas. naquele momento de sofrimento, físico e psicológico, eu me lembrei dele e de uma das suas histórias: tinha uma que era sobre uma "reza brava", que ele conhecia, que de tão perigosa, não podia ser rezada de frente para o espelho, podia dar um revertério e virar contra a pessoa. Aquela reza espantava todos os tipos de fantasmas, incluindo mula se cabeça, Saci-Pererê, boitatá.Também matava cobra venenosa, cachorro louco, amansava cavalo xucro, etc., Naquele momento de sofrimento,tudo que eu desejava era saber aquela reza. Queria poder fulminar aquela mulher de mão grande, e junto, de lambuja a minha irmã. , mas o que fazer? eu não sabia, ele nunca ensinou para os filhos. Então, tentei outras rezas domésticas, implorando às entidades que a castigassem, mas nada, ela saia e entrava na sala, me olhava, ria da minha situação e comentava com as outras professoras, que ali estavam e todas riam. Algumas comentavam que o castigo deveria ter sido maior.. O tempo passou. Repeti de ano, e eis que o retorno atuando: Aconteceu uma tragédia na cidade. Os sinos da igreja estavam mudos. O padre havia desaparecido da cidade. Nunca mais vi a mulher de mão grande. Mão de pão caseiro./i