FONTE BOA - Girassol do Solimões... Eylan Lins

FONTE BOA - Girassol do Solimões

⁠Neste ano de 2019, para homenagear nossa querida Fonte Boa, ousei viajar pelas estrelas, sob a luz cintilante de sua licença poética, para dedicar, ao benquisto povo fonteboense - verdadeiros construtores sociais desse chão - um conto (embrulhado para presente) que conta, de forma diferente, um pouquinho de nossa história, vejamos:
Ao raiar do mês de março, quando as águas silenciosas dos igapós costumam abraçar as flores silvestres, e o inverno amazônico aos poucos vai se dissipando no desfolhar das belas tardes fonteboenses, os tambores festivos dos Yurimáguas, entoando os cantos de Nereida, rainha do Cajaraí, anunciam em uma só voz, a chegada de uma das mais pomposas solenidades municipais: O aniversário da nossa querida Terra de Bons Frutos, lugar que uma antiga senhora costumava carinhosamente chamar de, “Girassol do Solimões”.
Março, regido pelo lírico apito do São Francisco, sob o comando do imemorial “Altino Siqueira Cavalcanti”, é também o mês onde a “História e a Poesia” se unem, para festejar, debaixo da escadaria do antigo porto, o carinho e o amor que dispõe por esse chão sagrado.
Logo os rumores se espalham, e ao cai da noite, na Praça de Maria, praça do povo, à festa foi mais uma vez saudada. Agora sob as estrelas e fogos reluzentes de aplausos. Entre um momento e outro, sempre que o último astro celestial se calava, o silencio era rompido pelos murmúrios e queixumes dos sóis flamejantes das madrugadas, anunciando (para jamais esquecermos) que o amanhã novamente florescerá, e nele, a luta, a fé e a esperança se renovarão.
Durante toda essa semana, o banzeiro dourado das velhas cantigas de roda, aos gritos da passarada, apresentou aos convidados, a noticia de que o dia 31 de março, data “oficial” do aniversário da cidade, é simplesmente simbólica, pois está centrada na efeméride de sua ascensão a categoria de Cidade, ocorrida há 81 anos, em razão do Decreto-Lei nº 68 de 31 de março de 1938.
De igual feita, no alto do barranco (daquele barranco que um dia guardou a velha cidade que ora dormita no fundo do rio), ouviu-se o badalar do antigo Sino da velha Matriz. E quando o povo surgiu em multidão, um velho seringueiro começou a bradar ... "senhoras e senhores, prestem atenção; o vento mandou anunciar a todos, que a emancipação política de nosso chão decorreu por força da Lei nº 92, de 28 de março de 1891".
Dito isso, os meninos que brincam em vultuosos gritos na ilharga onde um dia foi a Praça Vargas, correram para se juntar a plateia. Lá, se instruíram que, há 128 anos, tal feito foi o responsável por elevar a Freguesia de Fonte Boa à condição de Vila. ... E assim continuou o orador, a traduzir o que falava o velho Sino: “... antes de tudo isso ocorrer, não podemos esquecer que a moradora mais ilustre de nossa terra, a Guadalupe, trazida na canoa dos primitivos Carmelitas, já habitava este chão feito roseiral bendito”.
Algumas horas depois, uma estrondosa voz - que todos juraram ser o encantado Mapinguari, surgiu lá do centro das matas, bradando: “Dizem nossos ancestrais que no debulhar dessa vasta história, antes de tudo isso ocorrer, houve por aqui um padre chamado Fritz que estava a serviço de uma senhora espanhola. Muitos de nossos ancestrais também conclamaram ter sido ele o responsável por cravar no seio dos guerreiros Yurimáguas, uma cruz dolorosa que até os dias hoje dizem ser o esteio da fundação do "primitivo núcleo do povoamento" dessa linda cidade”.
De repente, do alto de uma Castanheira, ouviram-se os gritos dos bugios, cuja sabedoria popular, assim traduziu: "Não podemos, jamais esquecer, que isso ocorreu há 330 anos, quando ele aqui aportou em uma pequena canoa, lá para as bandas idos memoriais de 1689...
Teve gente que duvidou. Então mandaram chamar um pajé, que incorporou o espírito de uma sábia Ariramba, que assim falou: “... Eu o juro, pois é verdade. No passado remoto, quando aqui vivi e me chamava Mativa, pude testemunhar tudo isto".
E, assim, durante muitos dias continuou os festejos...
E para celebrarmos FONTE BOA, nossa singela flor-d'água, (quer seja, seus 330 ANOS DE HISTÓRIA, 128 de emancipação política, ou seus 81 anos de ascensão à categoria de Cidade), trazemos aqui, em humilde dedicatória, um velho fragmento de poema, fruto da saudade e do carinho que exprime o sentimento de todas as vozes inquietas daqueles que amam de paixão essa terra querida...
EXALTAÇÃO A FONTE BOA
Hoje não cantarei saudade
Nem pintarei de estrelas
O teu passado adormecido!
Hoje, o verbo do meu grito
Vibra o desejo - além do infinito -
De te ofertar Flores Amarelas!
...E saudando tuas primaveras
Neste teu mais que tricentenário,
Eu que te louvo e te amo tanto
Também te oferto o puro manto
De um sentimento sacrossanto
Como presente de aniversário.
* Eylan Lins, é professor, e um apaixonado por Fonte Boa...