Toda a obra que fazemos não é... José Estêvão
Toda a obra que fazemos não é produto duma única geração, mas de todas as gerações que por este planeta vão passando. Não devemos empregar o nosso esforço em modelar figuras de neve que, dentro em pouco o sol derreta, mas engrossar a sua bola de neve que role pelas montanhas do poderio humano.
Os vencedores das batalhas da vida são doas seres humanos perseverantes, que sem se julgarem génios, se convenceram de que só pela perseverança no esforço poderiam chegar ao almejado fim.
Educar não é dar um modo de vida, mas temperar a alma para vencer as suas dificuldades e foi isto que eu sempre fiz para me livrar do mundo danoso onde a fome tantas vezes me quis matar.
Eu não me considero um ser humano completo, embora também chegado até aqui pelo próprio esforço à posição em que me encontro que não é nada de extraordinário, mas foi até onde o meu modo de entender por muito alta que seja a posição social que um ser humano ocupe, conquanto o tenha levado até onde o seu próprio esforço e a sua inteligência abraçada à sua vontade, embora lhe pareça muito integral a sua auto-educação, não há nem pode haver neste mundo, um ser humano completo, no sentido de possuir harmonicamente todas as qualidades e reunir todas as circunstâncias que requer a sua perfeição.
Um ser humano completo só pode considerar-se aquele que, em relação ao ponto em que está ou à profissão que exerce, cumprir satisfatoriamente os deveres do seu cargo.
E como nunca será perfeito, apesar do seu esforço, nunca deixará de ter algum defeito a corrigir, algum ponto fraco a robustecer.
Há seres humanos de talento natural de feliz disposição e notáveis aptidões, para tal ou qual espécie de atividade que nobremente se esforçam por abrir caminho para a vida que reúna as qualidades para poder triunfar e no entanto, tudo quanto empreendem lhes sai ao contrário dos seus desejos, quando não tropeçam com uma morte a breve trecho.
No entanto, o grande problema do ser humano o que há-de ocupá-lo em toda a sua vida e o que o berço dá a tumba leva, ditado aliás tão falso como a fixidez das estrelas, cujo movimento escapa à simples observação.
No entanto, o grande problema, o que há-de ocupá-lo durante toda a sua vida, deve ser o modo de se aperfeiçoar, de se melhorar constantemente, da infância à juventude, da juventude à virilidade e da virilidade à velhice, apurando sempre o material de que dispõe até lhe dar o seu máximo valor, e utilizando-o para prestar, com a sua vida, os maiores serviços ao mundo, segundo a sua mentalidade que infelizmente algumas vezes os presta muito mal.
A nossa vontade não é capaz de impedir a digestão do alimento ingerido; mas o que pode é escolher o alimento que há-de ingerir.
Há outros materiais que, pela sua grande tenuidade, não chegam a ser percebidos pelos nossos sentidos externos e que, apesar disso, são tão suscetíveis de aperfeiçoamento como o organismo corporal.
Esta matéria quase imponderável, se a compararmos com a densidade do corpo, feito de carne, ossos nervos e sangue, é a que vibrando sob os impulsos da vontade no seu aspeto inferior de desejo ou de apetite, gera os abalos sentimentais e os pensamentos, cuja influência é evidente na vida de relação, pois é por meio de pensamentos e sentimentos expressos pela linguagem, que comunicamos com os nossos semelhantes.
Por outro lado, os sentimentos e os pensamentos influem poderosamente no corpo. Os sentimentos e os pensamentos podem ser de boa ou má qualidade.
Os primeiros produzem um efeito favorável ao nosso organismo; os segundos são-lhe prejudiciais.
Um mau sentimento produz no ânimo uma comoção má, isto é, faz vibrar morbidamente a subtil matéria do corpo sentimental.
Pelo contrário, um bom pensamento suscita um pensamento harmónico, saudável e alegre.
Os pensamentos ruins e os maus sentimentos têm por causa motriz o desejo, que é a vontade tortuosamente dirigida, se bem que, às vezes, por insuficiência das nossas expressões, se dê também o nome de desejo à persistente ação da vontade retamente aplicada.
Por sua vez, o desejo dimana do contato dos sentidos corporais com os objetos do mundo exterior que incitam ao prazer, e assim disse o sábio que – nem o olho se farta de ver nem o ouvido de ouvir.
Mas a vontade, convenientemente educada, tem poder de sobra para dominar os pensamentos e os sentimentos, de modo que sejam sempre de índole harmónica e produzam efeitos saudáveis no organismo.
Além disso, tudo o que fazemos no decorrer da vida, as nossas ações diária, o modo como procedemos, as obras que levamos a cabo não são mais, se bem repararmos que efeito material ou moral, conforme os casos dos nossos pensamentos e sentimentos habituais.
A água e o ar continuam sendo água e ar, em qualquer dos três estados, sólido, líquido e gasoso e a sua essência não se altera. Só se modifica o seu estado.
Todos os seres humanos, desde o mais rude selvagem ao sábio mais culto têm idêntica natureza espiritual, são essencialmente iguais e possuem as mesmas potências e faculdades e os mesmos meios ou instrumentos de manifestação e expressão. A desigualdade entre os seres humanos não é de essência, mas de grau de evolução. No sábio as potências mentais, no santo, as morais e no atleta as físicas, desenvolvem-se com bastante vigor para ultrapassar em alto grau a média comum da humanidade, ao passo que no ignorante, no malvado e no fraco estão latentes e à espera de desenvolvimento, como a semente que, no embrião, contém todas as partes da futura planta.
Portanto, a obra da auto-educação é a obra de toda a vida e consiste em aperfeiçoar o mais possível as potências e as faculdades próprias.
Para aproveitar bem o tempo é necessário trabalhar com método e ter sempre um livro à mão. Muitos desperdiçam o tempo, porque quando se desocupam durante quinze minutos, não têm nada em que empregar aquele quarto de hora.
Quando era jovem incorria no erro de pensar que, para meu adiantamento, bastava-me o trabalho usual de cada dia; contudo, pelo que ao aperfeiçoamento individual diz respeito, as minhas horas de ócio são ainda mais valiosas que o trabalho quotidiano, pois o que semeei nos momentos desocupado durante alguns anos vou colhê-los depois em frutos mais valiosos que cetros e coroas.
No decorrer do tempo não há hora nem minuto insignificante. Todos são preciosos como a própria vida. A diferença entre aproveitar ou desperdiçar os meus momentos desocupado constitui também a diferença de ser alguém ou nada ser nesta vida..
Alguns minutos empregados diariamente na leitura e na criatividade, assim como no estudo, convertem a minha ignorância em proveito disciplinado.
Ouvi dizer muitas vezes que as ocupações habituais da profissão, não deixam tempo livre que possa empregar noutra coisa, mas isto é tão falho de razão, como se dissesse de que nada serve forrar dinheiro num Banco, porque basta pouco para satisfazer as necessidades de cada dia, mas quem não começa por poupar o pouco, como há-de ganhar o muito?
O hábito de gastar tanto quanto se ganha perdurará, por muito aumentados que os ganhos sejam, pois, como regra geral, quem não sabe economizar um pouco também não saberá limitar-se com muito.
A diferença entre aproveitar e desperdiçar os momentos desocupados constitui também para muitos jovens, a diferença de serem alguém, ou nada serem nesta vida.
Sempre gostei de ter um plano ordenado de trabalho e estudo, há mil meios de tirar proveito de esforço despendido nas horas vagas. Posso empregá-las em rever o meu trabalho, em traçar novos planos, em fazer inventários das minhas condições pessoais e das minhas forças, em examinar o meu procedimento, para ver onde resvalo, tropeço ou caio e para corrigir os meus erros.
Posso aproveitar os momentos que outros perdem e transformá-los em elementos de suma utilidade da minha vida.
A minha mente é o meu reino, que posso converter em reino de inspiração, mediante as possibilidades do meu verdadeiro pensar, nos momentos forçados de ócio visionando e afirmando, os meus desejos, esperanças, anelos e aspirações de sorte eu mantenho o pensamento do êxito a respeito do meu futuro.
O pensamento é o leme do nosso ser; a vontade é a bússola. Seguimos sempre o rumo marcado pelo pensamento, porque não podemos fugir ao império da lei mental. Se pensarmos na vitória venceremos; se nos deixarmos dominar pelo temor da derrota, sairemos derrotados.