Dar vida à letra... É preciso... Sumã Pedrosa
Dar vida à letra...
É preciso tristeza para dar vida à letra.
- Ouvi dizer.
Digo que não é assim.
Na alegria também com a pena se brinca.
E o traço é bonito, bailado...
Afastar-se do cálamo vem do perder-se de si.
Nada se ouve que não o rebombar da superficialidade;
Para o olhar, falta clareza;
Tudo é turvo, opaco, obscuro.
Sentidos carregados de pressa, urgências, emergências.
Incoerências!
Para se escrever é preciso sentir.
Um sentir mais abstrato que os sentidos...
Um voltar a si de forma concreta
O íntimo cuidadosamente vasculhar.
Sentir, olhar, ouvir com vagar
O passar do momento, do espaço, do tempo.
Mas se me perco até de mim,
Que coisa posso eu oferecer?
Se não mais escrevo, não é por faltar tristeza;
A falta é de profundidade!
O que pode haver de mais triste?
Não é inspiração que me falta,
Falto-me de mim.
Há tão pouco, sentia falta apenas de ti.
Agora perdi-me de mim,
E tu ainda não estás aqui!