AS PERIPÉCIAS DO FIRMINO Por... Nemilson Vieira de Morais
AS PERIPÉCIAS DO FIRMINO
Por Nemilson Vieira (*)
O meu saudoso conterrâneo, o velho Firmino deixou o seu estado de origem, o Maranhão e saiu pelo mundo… Se pôs como pedra a rolar, rolar… Pelos caminhos da vida. Como a pedra que muito rola não cria lodo… Não quis o destino que fosse além de Campos Belos às suas peripécias. A sua trajetória de caminhante solitário encerrou-se por lá, num descanso eterno. Com a cidade viveu num estado de graça e amor permanente; à morte os separaram.
Bom camarada; extrovertido, sociável daqueles que sentimos bem estar ao seu lado. Um dos melhores contadores de causos que conheci. O seu jeito alegre de ser, a história que contava prendia à atenção das pessoas para ouvirem as suas narrativas orais.
Como bom maranhense amava de paixão as pescarias e os ensopados de peixes; numa ocasião nos contou sobre uma que participou com os amigos do lugar. Sobre brancas areias de um rio armariam as suas barracas, nas suas águas jogariam os seus anzóis, lançariam as suas redes. Cada integrante do grupo se ocuparia do que fosse necessário fazer naquele espaço.
Bebidas umas cachaças para animar o Firmino criou coragem para mergulhar no poço frio e profundo, à sua frente.
Gastou um tempo para voltar à superfície das águas. Os companheiros sabiam que ele demorava muito nos seus mergulhos.
Cultivava o hábito da captura dos peixes com as mãos introduzidas nas locas e fendas das rochas. Depois da demora ressurgiu, e voltou à praia sem nenhum peixe daquela vez. Prometeu à turma retornar às águas para buscar o prato do dia. Uma sucuri para quem animasse a comer. Pulou novamente no poço, desceu às suas profundezas.
Dessa vez demorou um pouco mais em retornar à superfície; talvez uns minutos. — Um só, submerso, já é uma eternidade.
Firmino estava grudado com as duas mãos no rabo da cobra à puxar-la para fora; a mesma inflava o corpo e se firmava nas laterais da toca, num descuido avançava para o seu interior. Naquela luta ferrenha dos dois pela sobrevivência… Firmino a venceu.
Na terra firme, ao batê-la sobre o solo por algumas vezes, a pobre da cobra desfaleceu. Foi uma farra daquelas dos colegas.Salivações de sobra só de pensarem em degustar uma iguaria daquela.
Ao iniciarem os preparos para o guisado, constataram que não se tratava de cobra-sucuri coisa alguma e sim, de uma cobra-jaracuçu que não crescia mais.
Dormiram com fome.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
F.L.