APENAS UM SONHO Noite mal dormida é... Elcio Jose Martins
APENAS UM SONHO
Noite mal dormida é danada,
Sempre acontece coisa errada.
Às vezes não leva à nada,
De vez em quando, vem uma porrada.
Noite passada sonhei profundo,
Parecia o fim do mundo.
Sonhei com um Rei nem um pouco pudibundo,
Queria a treva de um povo jucundo.
Detestava a alegria alheia,
Mandava matar quem era feliz em sua aldeia.
Nesta noite que me chateia,
Conto a história desse Rei que o demônio arreia.
Seus tímpanos doíam ao som musical,
Cobria de algodão o seu ouvido do mau.
Primeiro, proibiu a tocata de músicas em bares e restaurantes,
Logo após, em shows e autofalantes,
Proibiu a apresentação de artistas em rádios e televisão,
Proibiu ao maestro fazer a sua apresentação.
Música estava proibida de ser ouvida,
A alegria foi-se embora, era pra ser esquecida.
Não contente com esta proeza,
Aumentou sua malvadeza.
Em autos fornos mandou incinerar todos os instrumentos musicais,
A arte ficou muda, a música não existia mais.
Queria a treva. Queria a tristeza.
A alegria foi-se embora na correnteza.
O capeta na sua ligeireza,
Travestiu em humano realizando a sua proeza.
A liberdade ficou no passado,
O livre arbítrio foi massacrado.
O direito de ir e vir foi dilacerado,
O sorriso foi degolado na guilhotina do pecado.
Sorte que foi só sonho,
Por alguns minutos fiquei tristonho.
Mas nada é impossível, eu suponho,
A vigilância deve ser constante, mesmo em sonho, eu proponho.
Élcio José Martins