⁠Buscamos constantemente a felicidade... António Prates

⁠Buscamos constantemente a felicidade e queremos conquistar sempre coisas que supostamente nos fazem felizes, assim como ter dinheiro, ter sucesso, ter muitos a... Frase de António Prates.

⁠Buscamos constantemente a felicidade e queremos conquistar sempre coisas que supostamente nos fazem felizes, assim como ter dinheiro, ter sucesso, ter muitos amigos, ou uma relação amorosa estável para toda a vida. Com as tecnologias virtuais os bombardeamentos de imagens de pessoas de todas as idades, sejam pessoas anónimas ou as chamadas celebridades, observamos que essas pessoas tentam passar aos seus "seguidores" que estão sempre felizes, o que acaba por ser, em grande parte das vezes, uma grande ilusão para aqueles que as seguem. Naturalmente, todos nós já percebemos que a cada momento alguém faz questão de publicar os seus grandes momentos de felicidade aqui no Facebook. A pessoa vai a uma festa, faz uma publicação, faz um um jantar com os amigos, outra publicação, se está a viajar, não lhe falta felicidade para publicar de novo, se comprou uma roupa ou uma máscara nova, mais uma publicação de felicidade aparente. E assim vai indo, de felicidade em felicidade, para que os seus seguidores vejam o quanto ela, ou ele, é feliz. Certamente algumas pessoas devem estar a pensar: mas o que é que este tem a ver com as publicações dos outros. Eu faço publicações felizes e vou continuar a publicar a minha felicidade, para que os outros as vejam. Não tenho nada contra quem mantém esse hábito, da mesma forma que também não sou a favor expor toda a minha vida privada nas redes sociais, e muito menos o sou quando estou dependente do reconhecimento dos outros para me sentir feliz. É isso que acontece com a maioria das pessoas, onde a sua felicidade depende do número de likes ou do número de comentários que elas recebem. A felicidade nos dias de hoje tornou-se uma obrigação. O mundo contemporâneo vende para todos nós o prazer, faz-nos fazer todo o tipo de figuras, mais ou menos ridiculas, que são sem dúvida alguma a essência básica da felicidade moderna. Não são poucas as vezes que as pessoas experimentam o prazer através de algum objeto caro, tal como um carro, um telemóvel, ou outro brinquedo qualquer, no qual investiram a ilusão da sua felicidade, e nem sempre se sentem felizes, porque após o bem-estar momentâneo, sobra, ou falta, sempre a verdadeira essência que nos faz ser verdadeiramente felizes. Por exemplo, que felicidade nos podem dar as publicações com fotos provocantes, com quase todas as nossas intimidades à mostra, para mostramos ao mundo das redes sociais o que em privado mostramos a muito poucas pessoas, tiradas numa praia, em frente ao espelho, ou noutro sítio qualquer, a exibir para todo o tipo de gente mais ou menos perversa uma sensualidade barata a troco de likes e de comentários muitas vezes muito pouco sinceros, como se o nosso corpo não tivesse alma e fosse apenas mercadoria. Aliguns exemplos fazem-me lembrar os vendedores de felicidade, que nos querem fazer acreditar que tudo o que é dito e publicado nas redes sociais é realmente verdade. Sigmund Freud disse-nos que "a felicidade é vendida no sentido de cobrir uma falta, uma falta que é constante e que, portanto, nunca será alcançada na sua plenitude." As pessoas buscam satisfazer-se durante o tempo todo, como quem tenta encher o vazio de um copo que não tem fundo. Além do mais, o nosso próprio sistema capitalista vai contribuindo para isso, faz com que busquemos grande parte da nossa felicidade nas compras, nas viagens e nesses adereços superficiais, que as novas, e menos novas, gerações consideram cada vez mais importantes, e além de terem tudo isso, muitas pessoas costumam publicar nas redes sociais fotos esplendorosas, a simulação de uma vida requintada, justamente para tentarem preencher a ausência de uma vida perfeita, como certamente ocorre com uma grande maioria dos adeptos desse tipo de vida. Sobretudo, acho que vai estando na hora de refletirmos um pouco sobre o que nós, os que temos idade para ter algum juízo, estamos a construir para o futuro e a transmitir às nossas crianças e aos nossos jovens, em termos de sociabilidade e da nossa felicidade interior, sob a aparência ilusória de não sei quantos likes, de milhares de seguidores e de outros tantos comentários, que pouco mais significam do que um ninho de invejas de vaidades e de hipocrisias reais e virtuais. Na minha maneira de ver, aqui deste Alentejo profundo, nao necessitamos de vender a nossa alma a um preço tão baixo e a felicidade pode estar nas pequenas atitudes e nas coisas mais simples, sem que tenhamos prejuízos emocionais, que nos podem provocar baixa autoestima ou depressões que podem ser devastadoras no futuro. Lembremo-nos sempre de uma grande parte das pessoas mostra nas redes sociais o que elas gostariam de ser, e não o que elas realmente são.