Sou um antigo guerreiro dos céus. Luto... Eriec Soulz
Sou um antigo guerreiro dos céus. Luto pelo bem, pela justiça, pela liberdade, pela progressão, luto pela alma dos seres humanos no cerco dos céus. Não sou do tipo que oferece a outra face quando uma delas já foi golpeada, muito pelo contrário, nesses casos, liberto o monstro que carrego dentro do peito e com muito custo consigo contê-lo. Sou uma arma, fui treinado para isso, não sou o Salvador. Meu dever é lutar e faço isso até o fim, literalmente, até porque nossos inimigos não poupam forças para nos ver cair. Sou um dos anjos mais severos da legião, fui advertido diversas vezes, quase fui expulso, porém, por questões políticas, é preferível que eu esteja lutando pelo lado de cá. Essa força, essa ira, perante a conduta celestial em que me enquadro, nunca foi bem vista, mas também nunca me condenaram, chamam de fragilidade e constantemente me mantêm sob avaliação. Conviver com isso já é sentença suficiente e, na verdade, a situação nem sempre foi essa...
Quando afirmo ser um soldado celeste, que guarda os portões dos céus, talvez você pense que sirvo ao Senhor Deus, não se engane, isso não é verdade. Há uma grande hierarquia, altamente verticalizada, na qual, eu, estou bem próximo da base, Ele, bem no topo, na ELITE DO UNIVERSO. O ápice da pirâmide. Neste intervalo, há tanta farsa, que poucos podem imaginar, contudo, muitos estão envolvidos. Uma capacidade admirável de fingir, calcular, manipular e “passar a perna”. O universo é muito maior do que supúnhamos enquanto meros mortais.
A Elite é composta pelos seres mais desenvolvidos, criativos, poderosos e milenares de todo o universo. A trajetória é longa e possível, dificílima. Eu tentei... E esse foi o gatilho que despertou o demônio em mim. O cheiro do enxofre. Os vultos das sombras. Os ecos dos gritos no infinito. Vi demais, descobri demais, me envolvi demais e instigado pela essência do mistério, perdi o controle... “Cautela, siga as regras ou perderá suas asas!”. Foram com essas palavras que me abriram os olhos. Eu não estava sozinho, ainda assim, éramos a minoria e não havia muito a se fazer. Considerei várias hipóteses, recuei a todas elas, porque havia muito em jogo.
Eu parecia petrificado, o coração em puro gelo, o cenho franzido, o olhar firme, revoltado. Dividido entre o bem e o mal, a força e a fé. Eu voava sempre à frente a fim de evitar conversas, qualquer maldita informação de toda aquela falcatrua me trazia sangue nos olhos e me deixava furioso, era necessário evitar. Nunca fui de muito amigos mesmo, que diferença faz? “Covarde!”. Uma voz dizia gritava em minha mente o tempo todo. Passei a fazer mais rondas do que necessário, vasculhar torres de imensos castelos, andar pelos cantos, observar de longe, encurralar e matar... Por mais sorrateiro que fosse, foi inocente da minha parte, pensar que eu não estava sendo observado. Fui abordado... No breu da escuridão... No meio do nada...
- Tenho uma missão pra você. – disse o individuo.
Forcei os olhos tentando vê-lo, sem sucesso.
- Você é misterioso e sombrio, é observador e forte o suficiente para mudar o mundo.
Abri a boca e ele prosseguiu tocando levemente e rapidamente o centro do meu peito.
- Não diga, suas vibrações falam por você, aguarde instruções.
A voz foi se distanciando, e o eco me trouxe um “desafio aceito”.
Ainda não sabendo bem o que aconteceu ou o que deveria fazer e novamente instigado pelo mistério, voei ao meu abrigo e repousei.
Algumas coisas nunca mudam.
Despertei logo. Estava em um lugar apertado, de pouca luz, não conseguia respirar, senti o coração acelerar. Tentei gritar e não havia voz. “O que está acontecendo?”, pensei. Definitivamente não era o lugar onde adormeci. Tentei me acalmar, me concentrar, lembrei daquele individuo, da missão, o toque no peito e bem longe ouvi alguém dizendo repetidamente: “Vamos, vamos, rápido, ele já vai nascer”.