"-Viva eu ignorante e... Sandro Paschoal Nogueira

"-Viva eu ignorante e ignorado..."


Dizia assim o ogro...

Que não era amado...



Corpulento e desajeitado, de maus bofes e mal apresentado...

Vivia, diziam, em pântano assombrado...

Sonhar ele não sonhava...

Tinha, nas madrugadas e em horas dos dias...

Única companhia...

Eterna agonia...



Todos os olhares desviavam de sua face...

Nenhuma mão lhe era estendida...

E em total desenlace...

O ogro sofria...



Seu espírito tal qual criança perdida...

Tinha na solidão o abrigo...

Grande coração não compreendia...

O porquê daquele castigo...



Tantos belos rapazes de almas vazias...

De vidas abastadas, luxuosas e perdidas...

E ele fadado pela aparência...

Ter nessa existência...

Condenado a resiliência...



Sua única alegria...

A qual foi talhado...

Era do pântano em que morava...

Retirar do lodo em que chafurdava...

As mais belas flores que colhia...



Mas não se engane meus amigos...

O ogro também amava...

Linda donzela de aldeia vizinha...

E nas madrugadas....

Em surdina...

Sob a cumplicidade da senhora da madrugada...

A lua se escondia...

Favorecia assim...

Ao ogro do pântano...

Colher de seu jardim...

A mais bela flor...

E na escuridão que o cercava....

Cantava as mais lindas melodias...

Ofertava desse modo, junto com as flores, todo o seu amor.



A linda donzela não sabia...

Que seu pretendente era o ogro enjeitado...

Que para ela o ogro colheria...

Não só as mais belas flores da terra...

Mas que também lhe daria...

As estrelas para lhe fazer companhia...



Um dia...

Em desejo...

A donzela se escondeu...

Queria descobrir quem era seu amado...

Que no manto da escuridão...

Se apresentava...



Enfim...

Naquela noite fria...

Pela estrada prateada...

O ogro ia...

E como sempre levava em seu bojo...

Do seu amor o encanto...



As estrelas brilhavam mais que tudo...

E quando o ogro começou a cantar...

Desceram do céu para festejar...

A mais bela melodia...



A donzela pode então ver...

Que seu amado não era belo...

Mas seu coração singelo...

A encantou....


E assim termino minha história.

Acreditando no que digo....

Podemos não ser belos por fora...

Mas é na alma...

Que Deus mora...



Sandro Paschoal Nogueira