O lamento de uma jóvem... E continua o... Cleir

O lamento de uma jóvem...



E continua o tempo a roer-me a carne, dilacerando o corpo como estilhaços de cetim.
Doi-me ao ver dentro desse maldito espelho que faz questão de mostar-me essa imagem horrenda, toda enrugada com cabelos esgadalhados, esbranquiçados como neve numa manhã sem brilho.
Oh! Moldura linda envernizada que suporta esse vidro de aço que só mostra verdades, por vezes doida...
Por que não envelhece com o tempo ?
Despencando o espelho como despenca meu ser com prazer?
E o sol da manhã se escondeu, a tarde virou noite...
Só o fantasma da meia noite esperando a hora de partir.
Esse tempo que nada perdoa, e como uma correnteza arrasta toda beleza das flores que beiram sua orla.
Chama pra mim o sol, poeta louco!
Onde se os pássaros que gorgeavam?
Cuida pra mim, poeta louco.
Preciso de ar!...
Pára o tempo...
Traz o vento em calmaria...
Quero ver a beleza das cores das borboletas que sobrevoavam enquanto eu dormia...
Onde?
Cadê, poeta louco?
Por que estais levando minha vida nesse barco sujo e sem volta?
Que fiz?...
Apenas nasci...
Vivi...
Mal ou bem..
Vivi.
Espera-me despedir...
Já vou...