As noites passaram a ser lentas. Os... Marília Villela
As noites passaram a ser lentas. Os minutos eram horas. Rolava na cama e suplicava que a manhã chegasse logo. Socava o travesseiro e me punia a cada golpe. Aos 26 conhecia a mais terrível tempestade que os meus próprios pensamentos me levavam. Gostaria de resignificar e colocar em ordem. Gostaria de calcular os tropeços e perdoar-me pelas faltas. Gostaria de tornar simples e explicar oq parecia atrapalhado. O reflexo no espelho mostrava a irritação, o ego a tornar-me pequena e o desespero contagiante. Era desesperador. Não adormecer na monotonia. Não ser possível desligar-me e desacelerar os pensamentos que viajavam incontáveis vezes e submergia loucas recordações. Me sentia talvez culpada no meu inconsciente, ou ainda meu corpo reagia a demonstrar-me o quão útil poderia ser e o quanto o ócio me parecia confortável. Não aceitaria reviver aqueles meses difíceis. Preferia estender a mão, saudar pessoas simples, sorrir das manhãs rotineiras e às vezes até turbulentas. Me reestabeleceria. Renasceria e fincaria raízes. Ouviria oratorias belas, incorporaria dentro do meu intelecto a missão que haveria de cumprir. Não fugiria do destino. Abriria espaço para felicidade e me dedicaria a ser menos opressora. Entenderia. Viveria para ser melhor e ser melhor seria o único propósito. Não seria fácil. E quem disse que seria!? Abriria espaço. Tomaria as rédeas. Abusaria da boa vontade. Traria de volta princípios da maternidade. Me equilibraria numa passarela de poucos centímetros. Me tornaria Dona de mim. E saberia optar pelo justo. Viveria a dignidade de ser o princípio, o meio e o fim.
-Marília Villela