Ele se embrenhava na mata a procura de... Rayron Oliveira

Ele se embrenhava na mata a procura de si mesmo. Sozinho. Sempre sozinho! E a única presença que existia a sua volta, eram as árvores e folhas secas no chão. Fora isso, apenas ele e o vazio que existia na mata e dentro de si.

Ele não sabia se a mata encontrava-se deserta ou o deserto encontrava-se nele. Ou se ele encontrava-se na mata deserta, ou a mata deserta encontrava-se nele e como ele, deserto.

E na medida em que adentrava aquela vasta e vazia mata, menos o reconhecia e, assim, se perdia nas folhas e sem si.

Era tudo muito confuso, cheio de nada! Vasto, verde, vazio e confuso.

O único momento que parecia ter se encontrado, foi quando viu pela primeira vez um redemoinho passando a sua esquerda, arrancando árvores e espalhando poeira.

Galhos quebrados e bichos desabrigados.

Tudo se tornava oco. Ele era oco. E a cada minuto um buraco enorme crescia e lhe diminuía, transformando-o em nada.

Desesperado para saber quem realmente era, correu até um lago e tentou olhar seu reflexo através da água. Apenas as rochas no fundo do lago e o céu refletido na água que corria límpida e cristalina.

Sua boca seca e amargurada não dizia palavra. Nada, nenhum som. Sufocado por mãos que não lhe tocavam, porque não havia ninguém alí; a não ser ele e o nada ( que era tudo a mesma coisa, inclusive nada ) carregou a si mesmo até um penhasco, fechou os olhos e se jogou.

De oco e vazio; de desespero e solidão, (...) ele intensificou seu nada. Findou. Antes de saltar do penhasco e desfazer-se lentamente na escuridão de seu 'eu', ele procurava a si, que era o nada, e, no entanto, já era alguma coisa. Mas de tanto procurar e não se contentar, acabou encontrando o nada, o fim, ou nem isso.

Quando abriu seus olhos, na parede de seu quarto o relógio marcava 06:30; ele sabia que estava extremamente atrasado, como sempre esteve, mas não se assustou. Fazia décadas que não sentia emoção alguma, a não ser quando estava a dormir.

Do lado de fora, uma tempestade enorme caia e alagava as ruas de seu bairro. Tudo aquilo que acontecera não passava de um sonho. Ou seja: mais um não realizado.

E apesar de estar muito atrasado, recusou levantar-se da cama. Na verdade não conseguia.

- É que o peso da existência torna-se cada vez mais denso as 06 da manhã.

E vazio, cheio de nada, ele seguia.